A Ressurreição da Polônia

Já faz algum tempo que venho observando a seleção da Polônia com certo carinho. Ela já foi um dos grandes times da Europa, tem dois bronzes olímpicos e nos anos de 2003 e 2005 foi campeã continental, sob o comando da lendária Malgorzata Glinka, MVP de 03, que fez um estrago na Itália na final de 2005. Foi em 2010 que a Polônia deu seu último suspiro em um bom momento e chegou à fase final do Grand Prix, ficando em sexto lugar. Mas naquele mesmo ano iniciava uma dolorosa sequência de duas ausências do Mundial e foi a partir de meados de 2011 que seu bom momento ruiu.

Torcida polonesa reuniu quase 9 mil torcedores em partida contra a Itália na Atlas Arena de Lodz (Foto: CEV)


Depois de estrear um estrangeiro como técnico, o italiano Marco Bonitta, a Polônia se perdeu de vez. Em sete anos teve seis técnicos diferentes e segurou até demais nomes durante seu ciclo mais fracassado, o do Rio (2013-2016). O atual técnico, Jacek Nawrocki, não tem nada de incrível. Assumiu a seleção em 2015 e cometeu uma sucessão de erros, mas talvez sua melhor característica tenha sido o aprendizado com seus próprios erros. Temos que dizer também que o técnico foi abençoado com uma das melhores levantadoras do mundo, Joanna Wolosz; uma máquina de pontuação como há muito tempo a Polônia não via, Malwina Smarzek; e até uma central mais veloz e eficiente do que o padrão polonês, Agnieska Kakolewska.

É curioso dizer que Smarzek é o principal nome de tudo isso, já que foi desprezada na Polônia. O objetivo da Federação é que ela fosse ponteira passadora, já que a seleção tinha nomes como Katarzyna Zaroslinska, Berenika Tomsia e até a possibilidade do retorno de Katarzyna Skowronska para a saída. Nawrocki insistiu com Smarzek na ponta e às vezes dava certo, mas passar não é um dom que ela tem. Pode até faze-lo, mas não com a mesma eficiência no ataque. Na saída quem atuava era a ineficiente Tomsia, o que claramente não deu certo. E não se enganem, no clube foi a mesma coisa: mesmo depois de grandes apresentações internacionais, Smarzek era banco no Chemik Police. Mas foi ela que salvou o time em 2017 e 2018, principal pontuadora nas duas conquistas. Deixou o Police e o time caiu de tetracampeão consecutivo para quarto lugar, fora da Champions League. Começou mal no Bergamo, mas logo tomou seu lugar e teve o contrato renovado. Na seleção, Smarzek não deve nada a ninguém: duas Ligas das Nações, duas vezes maior pontuadora, uma final. A Polônia entre os melhores times do mundo, tá certo que em uma no que gigantes se polparam, mas isso era algo que não acontecia desde o Grand Prix de 2010!

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Principal peça ofensiva do elenco de Nawrocki, Smarzek chegou a ser banco na seleção, mesmo depois de ser estrela do título do Chemik Police (Foto: CEV)

A atualidade tem outros valores no time, Natalia Medrzyk é uma ótima passadora e eficiente no ataque, não é a jogadora de definição que Nawrocki esperava, essa é Magdalena Stysiak, uma grata surpresa. Com 1m98 e apenas 19 anos, vem tendo papel fundamental nas vitórias polonesas.

A expectativa da torcida, apaixonada por voleibol mais do que qualquer país no mundo, é que o time cresça. Tem motivo para isso! Imaginem que na última quinta-feira (29), sob os gritos de quase 9 mil pessoas, a Polônia bateu ninguém menos do que a Itália por 3 sets a 2 em um jogo que valia a liderança do seu grupo. A Polônia acabou tropeçando na Bélgica e precisava de um 3 a 1 para ser líder, não conseguiu, mas entra com moral para as oitavas de final. Não foi a Itália completa, Lucia Bosetti sofre com uma lesão, enquanto Elena Pietrini deixou o time. Mas a gigante Paola Egonu estava lá e fez 25 pontos, apenas dois a mais do que Smarzek. E convenhamos que chamar Sorokaite, dona de 19 pontos, e Sylla, que fez 16, de reserva é algo especial! As pontas polonesas por exemplo fizeram 15 e 7 pontos.

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Bloqueio gigante de Wolosz, Kakolewska e Stysiak para ataque de Sorokaite; Polônia bateu as italianas por 3 a 2 (Foto: CEV)

Pode ter sido um bom jogo da Polônia, uma boa VNL, pode ser um bom momento, mas a verdade é que de vários bons momentos, a seleção que se afundou na última década parece finalmente levantar voo e estar disposta a brigar com os grandes da Europa. Ainda falta muito e o sonho de retornar a uma olimpíada após 12 anos passa pelo caminho de adversários consolidados, como Holanda e Turquia. No Europeu, já nas quartas de final contra a Espanha, a Polônia parece dar um passo a mais para o seu sonho.

Comentários

  1. Que jogaço, meu pai do céu, não sei como a Polônia venceu esse jogo man, se vencer Egonu sozinha já é difícil imagina com Sorokaite e Sylla derrubando tudo, depois daquele terceiro set eu já estava desanimado, mais um novo amor surgiu, estou apaixonado pela Stysiak FADA MARAVILHOSA!!! Bloqueio nem existia que Graças a passando por cima da sylla com uma bola levantada de manchete vinda de trás, omgsh elas mereceram muito, agora quem merecia mais era aquela torcida, pelo amor de Deus, já vi isso no futebol mais no vôlei!? Amazing. No mundo não existe igual!!! A torcida polonesa é a melhor de todas. ( estou esperando essa matéria faz dois dias kkkk)

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  2. Não tem como não se encantar com a torcida polonesa. Não tem como deixar de vibrar com a poderosa derrubadora de bolas Malwina Smarzek, entre as atacantes que mais se destacam atualmente não existe nenhuma humilde e " na dela" como essa oposta. Torço muito por ela, que cresça e se destaque cada vez mais.


    Sem dúvida alguma que minha torcida no Qualiolímpico europeu vai pra Polônia, elas merecem muito estar lá. E, apesar de entender as regras, é uma pena ver que boas seleções irão ficar de fora da Olimpíadas em detrimento de outras que irão somente para cumprir tabela. Até pergunto ao blogueiro e gostaria de saber a opinião dos demais. Acham que isso devia ser revisto? Muitos esportes vale pra Olimpíada índice e mérito e não são firmadas vagas por continente...

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    1. No grupo das "humildes" eu coloco a Drews também.
      Quanto às equipes das Olimpíadas, sem sombra de dúvidas que as equipes européias engrandeceriam mais o campeonato e seria melhor do que ter uma Argentina por exemplo. Times europeus são sacrificados por falta de vaga que times medíocres ocupam. Mas enfim.. é a regra, e isso é lamentável.

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    2. Ach0 que poderia ser revisto em parte. Eu sou a favor de cada continente ter um representante, mas assim como outros esportes priorizam o ranking como parâmetro acredito que a melhor forma de resolver isso seria repondo vaga. Exemplo, aqui na América do Sul, os dois mais bem colocados da região disputaram o quali mundial, caso nenhum deles se classificassem teríamos classificatório regional, caso somente um se classificasse, a boa colocação no ranking permitiria à federação local (aqui no caso a CSV) ter o direito de mais uma vaga. Com a classificação de ambos a vaga de um eventual terceiro ficaria refém da pontuação do ranking( Ex, quantos países estão no top30 do mundo, aqui na América do Sul só Brasil e Argentina...) se nenhum dos eventuais candidatos preenchem esse requisito e com a classificação de representantes regionais e bem cotados internacionalmente eu giraria a vaga regional para outro local mais disputado com seleções de ponta. ( caso europeu, ou até mesmo da Norceca em um cenário trágico em que USA, CANADÁ e Cuba precisassem disputar somente uma vaga). Enfim, gosto da dinâmica olímpica mas as vezes ocorrem injustiças sim que até contradizem o princípio de representatividade, como a quantidade enorme de equipes da América do Norte na Rio quando as dominicanas, segunda equipe da região no ranking, ficaram de fora no feminino graças a um processo injusto. Os quali mundiais já melhoraram algumas coisas, mas ainda pode ser feito mais. Confesso que passada a emoção da virada do Brasil na Bulgária, fiquei até triste por eles, pois é um país super tradicional, que investe, e que deve ficar de fora de mais uma olimpíada pelo azar de jogar na Europa. Enfim, nem tudo é colorido na vida.

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  3. Smarzek-Godek é um monstro, até no passe ela se garantiu nesse jogo contra as antipáticas italianas, adorei ver o tombo de Egonu, Sylla e cia, e já estou na expectativa para a revanche entre holandesas e italianas, quero ver as reinas do deboche Robin, Laura e Lonneke sambando na cara de Egonu e cia. Sorokaite é o pote de ouro no final do arco-íris pra sacadora adversária.

    Outra revanche que aguardo com louvor é entre brasileiras e sérvias na World Cup, espero que Tandara, Gabi e Natália estejam em condições para esse jogo, se não, dificilmente venceremos as sérvias que deram uma caidinha depois do Mundial.

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    1. O tombo das italianas foi lindo, e Smarzek sambou bonito na cara delas. E também espero uma revanche entre Holanda e Itália, para as laranjas vingarem o Pré-Olímpico. Porém no caso de Sérvia e Brasil, mesmo com nossas principais jogadoras em condição, acho difícil vencerem a campeã mundial. Só por Sérvia ter a melhor oposta e a melhor levantadora do mundo se cria uma enorme desvantagem para as outras equipes que tentam batê-la.

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    2. Não precisa exagerar, Sérvia é um time fortíssimo, mas não imbatível. Tandara-Natalia-Gabi-Fabiana-Bia-Macris-Brait é time para vencê-las SIM.

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  4. https://youtu.be/KVoXZBtQZsM link do jogo contra Italia

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  5. Perfeita a Analise,a Polônia lembro eu,perdeu a vaga para o mundial num tie break grotesco no ataque e desde então esta numa crescente.Msm q nao conquistem a vaga olimpica,no proximo ciclo elas estao consolidadas e com a renovacao encaminhada

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  6. Acho que com a volta da Zaronslinka, quando as coisas apertarem no ataque vao colocar a Smarzek de Ponta e a Zaro de Oposta.. A Szitiak (nao sei como escreve) , embora tenha altura, ainda é inconstante no ataque, precisa de mais rodagem.

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    1. Pop, sabe se a Zaronslinka já jogou como ponteira? Eles poderiam fazer essa tentativa né? É uma jogadora mais experiente e se baseando nisso tem o dever de ser melhor no fundamento do que a Smarzek.

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  7. Não consigo ver esse jogo veloz de Kakolewzka. Ela é muito lenta, isso sim.

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