Os Estados Unidos escreveram seu nome na história do voleibol feminino neste domingo (8). Em sua quarta final olímpica da história, desta vez elas foram implacáveis e bateram o Brasil com autoridade por 3 sets a 0 (25-21, 25-20 e 25-14).
Estados Unidos comemoram sua primeira medalha de ouro da história (Foto: FIVB) |
O jogo começou com total imposição americana e com um Brasil apático desde o primeiro ponto. O placar apertado só ocultou o que vinha sendo um EUA x erros dos EUA naquele início. O Brasil começou sendo aniquilado pelo sistema defensivo dos EUA e nenhuma das atacantes passou dos 2 pontos neste fundamento no primeiro set.
Do outro lado, Bartsch e Larson comandavam ofensivamente. O Brasil fez 9 pontos de ataque no primeiro set e sozinha Bartsch fez 8. No total, a seleção americana fez o dobro da brasileira na parcial 18 x 9.
Me impressionou a aplicação tática dos Estados Unidos no início de jogo. O alvo dos bem executados saques americanos era a principal atacante do time adversário, a ponteira Fernanda Garay. Garay chegou à disputa da final como 4ª maior pontuadora do torneio e 4ª atacante mais eficiente. Era óbvio que os Estados Unidos cairiam pra cima dela no saque. 37 dos 60 saques americanos foram direcionados em Garay.
Estados Unidos fizeram marcação implacável de seus saques sobre a principal atacante do Brasil, a ponteira Fernanda Garay (Foto: FIVB) |
Já o Brasil, com todo respeito do mundo, escolheu a tática mais desinteligente possível para o fundamento: sacar em Larson. Esqueçam as estatísticas de recepção, elas refletem muito mais o sucesso de quem é mais pressionado (se Larson é menos exigida no fundamento passe, obviamente pontuará menos nessa estatística). Bartsch tem todo o mérito de ter feito uma boa Olimpíada no passe, mas Larson é de longe a melhor passadora dos EUA.
E foi assim que, no segundo set, o Brasil conseguiu pressionar os EUA pela única vez na partida. O saque passou a ser direcionado em Bartsch e Wong-Orantes. E aqui eu aponto que, inesperadamente, a líbero americana foi a jogadora mais regular de toda a campanha americana. Na derrota para a Rússia, Wong foi a melhor jogadora americana em quadra. Wong não era um alvo fácil do Brasil porque vinha com excelência no que fazia. Bartsch era mais fácil, mas o Brasil não teve a mesma competência no fundamento do que as rivais.
Sistema de passe e defesa americano foi impecável; Wong, Larson e Bartsch terminaram entre as 5 melhores passadoras do torneio (Foto: FIVB) |
Enquanto Garay era minada no saque, Macris sofria com outra constatação: Rosamaria vinha de um primeiro set em que virou apenas 1 de 7 bolas recebidas. Alertei após o jogo contra a Coreia que a oposta vinha bem no bloqueio, mas devendo no ataque. Dito e feito, infelizmente para ela.
Do outro lado, o Brasil viu o pior acontecer: Drews cresceu no jogo. A oposta americana funciona como um fusca antigo. No início ela toma alguns bloqueios, a bola volta na cabeça, no meio da quadra. Quando ela 'esquenta', vira até as bolas mais difíceis. Annie saiu de 28% de aproveitamento no primeiro set para 70% no segundo, enquanto Bartsch fez o caminho oposto. Esse é o maior mérito americano: as ponteiras começaram bem, caíram, a oposta assumiu. Elas têm o coletivo.
Queda de produção de Bartsch no segundo set nem foi tão sentida pelas americanas, já que Annie Drews assumiu a responsabilidade (Foto: FIVB) |
Naquele segundo set o Brasil ganhou um respiro importante das mãos de Roberta. Com o passe ruim, as centrais foram inutilizadas e a principal característica do jogo de Macris foi inutilizada. Naquele terceiro set, considero que Zé Roberto cometeu seu grande erro ao não escolher a levantadora reserva.
Macris é uma levantadora genial e não merece ter seus desempenhos apagados por essa fraca atuação na final. Se não fosse sua entrada no sacrifício na partida contra a Rússia, poderia ser o Brasil enfrentando a Itália nas quartas e os EUA na semifinal. Voleibol é momento e a queda assídua do passe brasileiro, na minha opinião, clamava pela objetividade do feijão com arroz bem feito de Roberta. Até o técnico ficou em dúvida, mas ele errou.
O terceiro set foi crucial para o destino americano porque elas entenderam a reação do segundo. Zé Roberto foi utopista ao acreditar que a mesma formação que perdeu dois sets em uma final olímpica conseguiria o sucesso na terceira parcial e viraria os dois sets seguintes. Isso é realmente incômodo, acho que o técnico deveria ter trocado. Repito que Roberta seria minha primeira opção.
Foi um massacre. Os Estados Unidos têm a melhor defesa do mundo e vê-la em execução é fantástico! Até a grandalhona Bartsch foi eficiente em pegar as raras bolas de meio brasileiras. Marcada e bem estudada pelas americanas, Macris não conseguiu acertar sua bola com Gattaz e as centrais receberam pouquíssimas bolas. Esse sentimento foi levado para o bloqueio das centrais.
Jordan Larson faz marcação ilustrativa sobre china atrás de Carol Gattaz; EUA aniquilaram o jogo do Brasil pelo meio (Foto: FIVB) |
Do outro lado, Poulter fazia uma grande partida e longe de suas características, teve as centrais como bola de segurança em momentos importantes, forçando principalmente com Washington na china. Tudo funcionou bem no terceiro set e o Brasil só assistiu a um dos melhores jogos dos EUA na Olimpíada: o título era americano, sem chances para qualquer adversário!
Depois de bater na trave três vezes, chegou a hora delas, vingando a derrota na semifinal para a Sérvia em 2016, vingando as derrotas para o Brasil em 2008 e 2012, o primeiro ouro da história dos Estados Unidos saiu hoje e foi completamente justo e inquestionável.
Final Olímpica
Estados Unidos 3 x 0 Brasil (25-21, 25-20 e 25-14)
EUA: Poulter 1, Larson 12, Drews 15, Bartsch 14, Akinradewo 5, Washington 8 e Wong (L). Sub: Hill 1.
BRA: Gattaz 3, Rosamaria 8, Macris, Gabi 10, Carol 3, Garay 11 e Brait (L). Sub: Roberta, Natália 4, Ana Cristina e Bia.
Seleção do Campeonato
MVP: Jordan Larson (EUA)
Melhor Oposta: Tijana Boskovic (SER)
Melhor Levantadora: Jordyn Poulter (EUA)
Melhores Ponteiras: Jordan Larson (EUA) e Michelle Bartsch (EUA)
Melhores Centrais: Carol Gattaz (BRA) e Haleigh Washington (EUA)
Melhor Líbero: Justine Wong-Orantes (EUA)
Seleção dos Estados Unidos no pódio com sua primeira medalha de ouro (Foto: FIVB) |
Título merecidissimo. O que é mais impressionante sem dúvidas foi ver uma seleção que perdeu três finais ter forças ao longo dos anos para se reinventar, superar os erros e chegar extremamente consistente em Tóquio.
ResponderExcluirKiraly finalmente conseguiu duas opostas que segurassem o jogo. Os erros de 2015, 2016 e 2018 ficaram para trás. Acertou demais em investir na Poulter e Wong que mesmo na primeira olimpíadas deram conta do recado com maestria.
E a Larson? Mano, sempre taxada de pipoqueira, que entregou a final de 2012 e tal e agora me faz uma final impecável, com sangue nos olhos. Todas as ações dela em quadra mostraram que ela veio para ser ouro. Maravilhosa.
Kiraly antes da final deu uma entrevista e a reporte o questionou sobre qual experiência queria que suas jogadoras tivessem naquela final. Ele respondeu com lágrimas nos olhos que queria que elas experimentassem o lugar mais alto do pódio. E conseguiu... Bela história!!!!
Eu torci muito pela seleção brasileira porque admiro esse time, mas os EUA mereceram demais a medalha de ouro. Eu já estava feliz com o pódio, mas fiquei triste pelo desempenho da nossa seleção, sabendo que elas poderiam ter se apresentado melhor na final.
ResponderExcluirDe qualquer forma o pódio foi justo. As três melhores seleções do campeonato e que chegaram por merecimento.
Gostei tbm da Larson MVP a exemplo do que aconteceu com Serginho na Rio 2016 um prêmio que celebra a carreira brilhante.
Fiquei um pouco decepcionado porque esperava um bom jogo de volei, mas, na prática, EUA dominou do início ao fim. O ouro foi muito merecido. Pro Brasil acho que a prata é uma vitória e tanto. Tantas equipes tidas como favoritas ficaram no meio do caminho e o Brasil conseguiu chegar na final. Ansioso pro mundial ano que vem!
ResponderExcluirA tática de blitzkrieg funcionou novamente e a estabilidade emocional ficou com os EUA.
ResponderExcluirVi uma defesa possível ser defendida por Camila e desviada para seu próprio queixo.
Não era dia de Macris, ela é capaz de consertar muita bola quinada, mas neste jogo não rolou.
Com Roberta a equipe melhorou mas não foi mantida, Ana Cristina não foi devidamente testada desde a VNL. Ainda bem que vai para o Fenerbahce.
Bola pra frente, para Paris faltam 03 anos.
A base tem de ser testada já na Super Liga, Helena Wenk e outras promessas com altura próxima precisam jogar com as profissionais. Jordyn Poulter, levantadora, tem 1,88 m.
A Helena Wenk irá jogar a Superliga B pelo Flamengo. Acredito que ela esteja sendo preparada para ir para o time do Bernardo. Mas é um pouco preocupante visto que o voleibol brasileiro não sabe muito bem jogar com bolas altas. Isso vai precisar melhorar muito com o surgimento de jogadoras como ela.
ExcluirE aí Gustavo e leitores do To Fly, lembrei de um post que antecedeu o início das olimpíadas quando você pautou que o BR estava indo sem uma exímia passadora como foi entre 2008 - 2016. Taticamente, a entrada de uma exímia passadora, liberando Gabi (que é excelente passadora) ainda mais para o ataque, já que foi a bola de segurança do Brasil, faria a levantadora utilizar mais as meios de rede, já que a oposta estava sem efetividade.
ResponderExcluirSem dúvidas, a equipe estadunidense foi regular e mereceu o ouro olímpico. Queria ter visto mais do Brasil, inclusive como seria o time com Tandara.
"...vingando as derrotas para o Brasil em 2008 e 2012..." Para isso acontecer, elas têm que ganhar da gente em outra final.
ResponderExcluirMundial 2014
ExcluirToquio 2020
Vc ainda quer mais?
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirMundial 2014 foi semi e não se compara semi de Mundial com final olímpica, pelo amor de Deus.
ExcluirA final da Liga das Nações foi muito mais disputada, meu Deus.
ResponderExcluirParece que o RDZ continua na seleção masculina até Paris, pqp.
ResponderExcluirEu disse que quem comemorava por ocasião a derrota da China iria chorar a vitória das americanas na final, a única seleção que poderia batê-las não teve tempo de se recuperar na competição, aí me chamaram de vira-lata, pois agora as americanas são campeãs olímpicas e mundiais...
ResponderExcluirO objetivo era as brasileiras chegarem na final e não as chinesas, vira-lata.
ExcluirSeu texto está errado, quando diz que Macris entrou no jogo contra a Sérvia, quando na verdade foi no jogo contra a Rússia…
ResponderExcluirAinda sobre a final, essa Drews joga com sangue nos olhos qdo é contra o Brasil!!!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirUma Festa lindíssima na Rússia aos atletas olímpicos. Eu pelo menos, nunca vi algo parecido, em termos de recepção aos atletas que voltaram das Olimpíadas, tanto na Rússia, como em algum outro pais. Um palanque gigante foi armado no centro de Moscow. Os esportistas foram recebidos em grande estilo na Praça Vermelha. Bandeiras russas, crianças, professores, cidadãos moscovitas foram receber os olímpicos com alegria e entusiasmos. Bannes de alguns atletas eram exibidos, bandas de músicas, faixas de agradecimentos, aplausos!!! Pelo menos uns 4 ônibus abertos ornamentados, conduziram os medalhistas. Bandeiras russas foram distribuídas aos presentes, muitos flashs, abraços, canções e exaltação ao hino russo. A Bandeira foi hasteada várias vezes, discursos de elogios e o encanto das crianças e jovens a cada convocação dos atletas campeões ao palanque. Quantos atletas surgirão?...desses momentos de reverencia. As meninas da ginastica artística, as atletas campeãs do nado sincronizados, os medalhistas do vôlei e muitos outros com suas medalhas. Os jogos serviram de muita motivação na Rússia e, certamente, em Paris eles virão mais fortes. O Vôlei feminino voltará como favorito ao pódio, a Seleção feminina teve um desempenho superior ao esperado. O Vôlei masculino já estar consolidado e há vários outros atletas disponíveis. Em 2022 tem Campeonato MUNDIAL e agora são 14 atletas. Muserskiy estará de volta e mais um outro será convocado e o feminino já ressurgiu.
ResponderExcluirMuda pra lá, whosso de Taubaté.
ExcluirMais do que merecido esse ouro pras americanas, Kiraly acertou em cheio na convocação e as jogadoras não pipocaram.
ResponderExcluirParabéns ao KK e à comissão técnica norte-americana que conseguiu suprir os pontos falhos de seu time, encontraram duas opostas com características diferentes mas que derrubam bolas no mesmo nível de qualidade, uma líbero que passa e defende muito bem e uma ponteira de definição (porque de composição sempre tiveram). Um time que se pensa e joga no coletivo. Ganharam de todos os outros favoritos e jogaram com velocidade.
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