De titulares da seleção a quase banidas do vôlei: por que a Coreia é tão rigorosa com o bullying?

Não se fala em outra coisa no mundo do voleibol sul-coreano do que as acusações de intimidação sistemática (mais conhecidas como bullying) contra as irmãs gêmeas Jayeong Lee e Dayeong Lee, respectivamente ponteira e levantadora titulares da seleção de Stefano Lavarini e do Heungkuk Pink Spiders, mesmo time em que atua a estrela Yeonkoung Kim.

Jayeong e Dayeong foram acusadas por pelo menos quatro vítimas de assédio e bullying durante seu período escolar, cerca de 10 anos atrás. As acusações contra as irmãs incluem agressões físicas (como socos no rosto e chutes repetidos em espaços trancados), ameaças com faca, roubo de dinheiro de colegas, humilhações públicas, ofensas e vários outros tipos de violência.

As declarações de uma vítima que não se identificou vieram a público, atingindo mais de 40 mil visualizações em um dia. Como consequência disso, foi realizado um pedido popular de investigação para o caso das irmãs Lee, que atingiu 100 apoios, obrigando que o governo coreano tome providências. Dependendo do processo, Jay e Day podem ser definitivamente banidas do voleibol aos 24 anos de idade. 

Jayeong Lee e Dayeong Lee após jogo pelo Heungkuk na liga coreana (Foto: KOVO)


Bullying e suicídio na Coreia

Segundo dados do National School Violence Survey, instituição de prevenção à violência no país, 12% dos estudantes sul-coreanos já sofreram algum tipo de violência repetida. Desses, praticamente metade já alegou que sentiu uma dor além do tolerável.

O Bullying muitas vezes leva à depressão e até a casos bem mais graves. Mesmo com apenas 51 milhões de habitantes, a Coreia do Sul é vice-líder mundial em número de suicídios, perdendo apenas para a pequena Guiana. Na Coreia, 41 pessoas tiram a própria vida diariamente. 

Suicídio e o voleibol

O tema delicado partiu o coração do mundo do voleibol em 2020, quando a ponteira Yoomin Goo foi encontrada sem vida em seu apartamento. A jogadora relatou o recebimento de uma onda sistemática de agressões vindas de "fãs" de voleibol, equipes técnicas e até colegas de time. Goo foi colega de time de Dayeong Lee por anos no Hyundai (mas não estamos dizendo que ela a agredia).

O triste caso fez com que a KOVO abrisse os olhos para o problema no voleibol e nas redes sociais, implementado regras mais rígidas, garantindo que haja punição para essas práticas. É exatamente isso que pode tirar as irmãs Lee do esporte.

Yoomin Goo foi uma vítima do massacrante bullying coreano (Foto: reprodução)


Achincalhamento virtual

Elas não perdoam: as redes sociais são ferramentas explosivas na internet. E assim como se voltaram para atacar Goo, agora miram nas irmãs Lee para tentar "fazer justiça". Centenas de comentários pedindo a expulsão das atletas do time e do voleibol chegam por todos os lados.

Jayeong excluiu seu Instagram, enquanto Dayeong restringiu seus comentários. Um dos comentários em um portal coreano diz: "por que Heungkuk está pagando gangsteres? Demita elas imediatamente, não quero ver isso na tv".

O que as irmãs disseram?

Dayeong e Jayeong pediram desculpas e disseram sentir muito pelos erros do passado e que, se as vítimas concordassem, gostariam de se desculparem pessoalmente. Mas o pedido não convenceu os fãs...

Problemas com Kim?

Um rumor que existe por lá é que Kim e as irmãs, colegas de time, não são próximas. Em uma entrevista, Kim foi perguntada se estaria ajudando as gêmeas e respondeu que está preocupada com as jogadoras mais jovens, que já há muita gente cuidando das Lee.

O problema de Kim seria com Dayeong, a levantadora, que teria ficado irritada com um questionamento da estrela mundial. No Instagram, Dayeong parou de seguir Kim, que ainda a segue.

Coreanos não veem boa relação entre Kim e as irmãs Lee (Foto: reprodução/Instagram)


O que diz o Heungkuk e a Kovo

O Heungkuk Pink Spiders declarou que as jogadoras estão profundamente arrependidas e vai trabalhar por suas reabilitações. As duas atletas deixaram o alojamento da equipe e o clima por lá não é bom, não se sabe se as irmãs de fato serão afastadas. A KOVO ainda não se manifestou.

Você precisa de ajuda? 

Sua vida é muito importante e se você se sente mal e quer conversar com alguém, existe um serviço gratuito e sigiloso que é o Centro de Valorização à Vida ou Como Vai Você? 

Através do CVV, você pode entrar em contato com voluntários capacitados para conversar com você. O serviço é seguro e apoiado pelo SUS. 

Você pode: 

  • Ligar para o número 188 (gratuito e de qualquer telefone)
  • Conversar com eles por chat nesse link: www.cvv.org.br/chat/
  • Enviar um e-mail para eles por aqui: www.cvv.org.br/e-mail/ 

Todas as informações podem ser encontradas aqui: https://www.cvv.org.br/

Comentários

  1. Chocado com a matéria. É estranho pq havia rumores de que a Kim estava com a Dayeong depois de terminar çom a Tomkom. Que loucura, principalmente as acusações das vítimas. E o pior é que as duas são fundamentais para a seleção da Coreia do Sul.

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  2. Qual o sentido em aplicar uma punição tão severa depois de tanto tempo? Muito melhor fazer com que elas participem de campanhas de conscientização contra o bullying voltadas aos jovens. Tirá-las da seleção não resolverá o problema nem diminuirá a dor da vítima. Diálogo e ações sociais, por outro lado, vão.

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    1. Concordo. A 'cultura do cancelamento' é totalmente irracional na Coreia do Sul.

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    2. A cultura do cancelamento é totalmente irracional em qualquer parte do mundo. No Brasil então, a hipocrisia é quem manda. Nojo.

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    3. Com certeza, mas na Coreia do Sul passa de todos os limites. O Pink Spiders anunciou que as irmãs Lee estão oficialmente afastadas pelo resto da temporada. Eu não duvido a federação sul-coreana cassar o registro das atletas em definitivo. Isso é horrível pra Kim, pois a Jayeong ajudava muito ofensivamente no clube e na seleção. Fora que o Lavarini investiu na Dayeong e tava dando certo.

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    4. Acho que a punição foi correta sim. É mto complicado pra quem sofre bullying e n consegue seguir em frente ver que o seu agressor tá seguindo a vida como se nada tivesse acontecido. Ver os agressores serem punidos, ainda que anos depois, causa sim certo alívio às vítimas. Acredito que os times precisam buscar mais esse tipo de informação antes de formar suas equipes. É como se quisessem abafar o caso até onde der... e daí desfalca a principal por descuido da base.

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    5. Também acho, como o comentário acima. As pessoas não aprendem somente com um educativo na maioria das vezes. Muita crueldade tudo o que fizeram. Seria uma correção desproporcional. Junto com o educativo elas devem sofrer as devidas punições, pois quem sofreu com elas com certeza perderam muitas oportunidades na vida, já fui vítima e até hoje luto contra o que minha mente sofreu. Mas hoje me vejo em situação melhor que eles, e entendo a revolta dos que sofreram.

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    6. Não seja hipócrita. Não foi vc que sofreu o bullying, então é facil minimizar a dor da outra pessoa e dizer que punição não resolve nada. É gente como vc que elege e reelege corruptos e seus familiares bandidos. Idólatra de marginais!!!

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  3. Excelente matéria, Gustavo! Importante estar alerta ao que acontece fora das quadras. Que isso sirva de atenção para todos nós!

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  4. Já no caso do ginasta brasileiro que fazia comentários racistas com o colega de equipe, foi prêmiado e está em Tókio enquanto a vítima sucumbiu pelo caminho.

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    1. Que vergonha para o Brasil! Eu sofri bullying e fico feliz de estar à frente dos agressores hoje em dia. Seria o fim vê-los sendo até premiados!

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