Busto Arsizio: um gigante italiano arrasado pela Covid-19

Os protetores de braços pretos e longos já são quase uma marca registrada da italiana Camilla Mingardi. A oposta de 23 anos os utiliza como acessórios indispensáveis e tem sido assim desde o final de 2016, quando surgiu para o grande público do Italiano como uma promessa, se destacando pelas altas pontuações, até de fato liderar esse ranking individual na Liga. 

Em outubro de 2020, Camilla teve a oportunidade de usar mais um protetor preto, mas com um design especial para sua carreira: a borboleta rosada de Busto Arsizio. O que pouca gente sabe é que Mingardi é fruto do Futura Volley, time juvenil do Busto Arsizio que disputa a A2 italiana.

Camilla Mingardi, maior pontuadora do último Italiano, estreou no time adulto do clube que a lançou (Foto: UYBA)


No auge de sua carreira e como maior pontuadora até a interrupção do último Italiano, a oposta selecionável tinha tudo para fazer um grande campeonato com um elenco de titulares selecionáveis, como a levantadora americana Poulter e a central sérvia Stevanovic.

O Busto começou bem e mesmo com pouco entrosamento, totalmente renovado, disputou o título do Italiano contra o gigante Conegliano. Início bom, mas meteórico, rapidamente o Busto foi de finalista a 11º colocado da melhor liga do mundo. 

A vilã poderia ser a incompetência do técnico, a fase ruim de alguma das jogadoras, as decisões de mercado. Mas a vilã que corrompe e derruba o Busto Arsizio tem nome e número: Covid-19.

Primeira onda: 4 positivos

O Busto Arsizio foi um dos times em todo o mundo que mais sofreu com a pandemia e também foi um dos primeiros italianos a paralisar suas atividades devido à doença. 

No dia 7 de outubro, três jogadoras do Busto testaram positivo para Covid-19: a levantadora Poulter, a ponteira Piccinini e a central Stevanovic. O então técnico Marco Fenoglio também foi infectado e assim, colocados em quarentena. Como medida preventiva, o jogo contra o Brescia no dia 14 foi adiado.

Testes não detectaram outros positivos e a LVF determinou que o Busto fosse ao próximo jogo, no dia 18 de outubro, mesmo com as quatro ausências. O adversário era um dos favoritos, o Scandicci e o Busto não resistiu, derrotado por 3 sets a 1.

O jogo adiado contra o Brescia foi remarcado para três dias depois, 21, sendo que o prazo final para o retorno das ausentes era no dia seguinte. O UYBA entrou novamente desfalcado, mas venceu por 3 a 1.

Lesão no tornozelo e Covid-19: Jordy Poulter sofreu longa ausência do Busto (Foto: UYBA)


Segunda onda: 3 positivos

Em 25/10, novamente o Busto teve um jogo adiado, agora por infecções do adversário, o Firenze. Assim, o UYBA completava mais de 20 dias sem jogar com sua equipe completa. Mas o pior ainda estava por vir.

Marcado para o dia 28/10, em Perugia, o jogo contra o dona da casa foi adiado. O motivo? Três novos positivos para Covid-19 no grupo do Busto Arsizio. A equipe já estava na casa do rival quando receberam os resultados e as jogadoras infectadas precisaram retornar para Busto de forma independente e separadas do restante do time.

O desespero tomou conta do time. O presidente do Busto, Giuseppe Pirola, chegou a dizer que poderia aplicar uma quarentena opcional para erradicar a doença e garantir a saúde das atletas, ainda que isso lhe custasse algumas derrotas por W.O. 

Aguardando resultados de testes, o Busto teve adiado o jogo contra Casalmaggiore e suas atletas se mantiveram em isolamento entre os dias 28/10 e 02/11. A liberação saiu naquele sábado, 2, quando os testes deram negativos para todas as atletas do Busto - mas não para as do Chieri e as borboletas somaram três jogos adiados.

Presidente do Busto Arsizio chegou a cogitar paralisação total de atividades para estancar vírus (Foto: UYBA)


O preço da paralisação

Foram 17 dias sem jogar, prazo em que muitos de seus adversários fizeram de dois a três jogos. O Busto só conseguir retornar às quadras no dia 8 de novembro contra o Bergamo e com duas ausências por Covid-19, além de Poulter com o tornozelo machucado desde a Supercopa. Não aguentou a falta de ritmo, perdeu por 3 a 2.

Na semana seguinte, dia 15, o adversário foi o aguerrido Cuneo, time que surpreendeu gigantes, mas também sofreu com a Covid. E o Busto voltou a falhar, novamente caiu por 3 a 2. Apenas três dias depois, 18, a LVF remarcou o primeiro dos adiamentos, contra o Firenze, que venceu as borboletas por 3 a 0. 

Após esse jogo, o presidente Pirola marcou uma reunião com a equipe técnica e as jogadoras para entender o que estava acontecendo. Será que precisava mesmo, presidente? 

Passaram-se só três dias novamente, 21, e o Busto já estava em quadra. Assim sofreu uma nova derrota: 3 a 0 para o Novara, time que venceu na semifinal da Supercopa. As pazes com a vitória só foram feitas na semana seguinte, 28, quando venceu o frágil Perugia por 3 a 2.

A bolha da Champions

Sob novo regulamento da Champions League, os quatro times do Grupo A se encontraram em Scandicci. Os jogos, com sede única, foram decididos assim justamente para evitar viagens, reduzindo o risco de novas infecções.

Bulovic passa por protocolos de segurança durante "bolha" da Champions (Foto: Galbiati Anatrini)


No primeiro jogo, o Busto perdeu para o Scandicci por 3 a 2, um resultado normal. No dia seguinte, apesar da vitória, as borboletas só derrubaram o polonês Rzeszow por 3 a 2. Por fim, depois de dez sets em dois dias, o Busto levou um 3 a 0 do Schwerin, resultado mais atípico.

A gente sempre espera mais dos italianos e tantos resultados ruins deveriam cair como culpa sobre alguém, é assim no Italiano. E foi assim que a presidência do Busto anunciou a demissão do técnico Marco Fenoglio.

Terceira onda: 7 positivos

Depois de três jogos consecutivos nos dias 1, 2 e 3 de dezembro, o Busto Arsizio voltou para casa. A LVF agendou o jogo adiado contra o Chieri na 10ª rodada para o dia 8. Foi aí que o time recebeu um comunicado de Scandicci: jogadoras do time que esteve na "bolha" com Busto, Rzeszow e Schwerin testaram positivo para Covid-19.

Algumas jogadoras do time apresentaram febre, então não havia muitas dúvidas: a Covid-19 atingira o Busto Arsizio pela terceira vez. No mesmo dia, 7 de dezembro, a equipe do Busto recebeu a confirmação de sete jogadoras infectadas.

Quarentena total de quinze dias e quatro jogos pendentes: Chieri, Trentino, Casalmaggiore e Monza. Esses jogos, aliás, continuam em atraso, com o Busto sendo o time com menos jogos na liga, ao lado do Scandicci.

Após Champions, Scandicci descobriu resultados positivos; Busto também foi contaminado (Foto: Galbiati Anatrini)


Retorno desfalcado: Stevanovic de oposta

Em 24 de dezembro, véspera de Natal e 21 dias sem jogar, o Busto Arsizio finalmente voltou às quadras. Desta vez contra o campeão mundial Imoco Conegliano. O que parecia difícil, tornou-se impossível: o Busto tinha 6 ausências.

Mingardi, Gennari, Escamilla e Bulovic permaneciam em isolamento por precaução, enquanto Leonardi e Cucco ainda se recuperavam da Covid-19. Musso, auxiliar promovido a técnico, foi obrigado a improvisar Stevanovic de oposta. 

Sem três titulares e Stevanovic improvisada, o resultado foi como esperado: Conegliano 3 a 0. O Busto lutou, fazendo inclusive um 28 a 26 no terceiro set e com 11 pontos de Stevanovic. Mas não conseguiu evitar a derrota.

Jovana Stevanovic ataca china em jogo que atuou como oposta; sérvia fez 11 pontos contra Conegliano (Foto: Michele Gregolin / Conegliano)


Esperança

11º colocado, se vencer os quatro jogos faltantes pode chegar até ao quinto lugar (matematicamente falando, mas os adversários também têm jogos atrasados).  

O próximo jogo é contra o Perugia, no dia 6, e a expectativa é que finalmente o Busto Arsizio jogue completo no Italiano. Todos os times do mundo sofrem com o coronavírus, mas poucos enfrentaram tantos problemas quanto as borboletas da Lombardia. 

Nós acreditamos em dias melhores para o Busto Arsizio, assim como para toda a humanidade. Forza, UYBA!

Busto Arsizio ainda pode reverter quadro e lutar pelos playoffs (Foto: Michele Gregolin / Conegliano)

Comentários

  1. Não é só a CBV que faz �� na hora de definir uma tabela de jogos do principal campeonato do país. A LVF também fez a mesma ��, e os times estão pagando o preço.

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  2. Que bom que este site voltou. Já tinha saudades.
    Gosto muito do Busto e achou que vai melhorar bastante, já não deveria ter adiamentos na rodada de returno, o time vai começar a ganhar e chegar em ritmo para a segunda bolha da Champions.

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    1. Oi, Paolo, fico feliz em ler isso! =D

      O Busto ganhou mais uma hoje e acredito que ele se recupere a tempo dos playoffs. E que os céus abençoem essa segunda bolha, porque olha...

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