Naturalização: regras, exceções, concessões e histórias

Naturalização no voleibol é um processo complicado de se entender, principalmente quando atravessamos a fronteira de Cuba ou do Leste Europeu. Nesse especial o To Fly sobre alguns casos de naturalizações e de cessões de nacionalidade e suas distinções.

Regras Gerais

O processo de concessão de naturalização da FIVB acontece quando um jogador já federado por outra nação, solicita à entidade o registro em uma nova federação. Esses são os casos mais comuns e uma vez registrado pelo país como cidadão do mesmo, a FIVB analisa o processo e autoriza sua participação em seus campeonatos. Isso desde que o jogador tenha representado a seleção de sua última federação em um período superior a 2 anos. 

Dupla Cidadania

Alguns países aceitam a dupla cidadania, outros não. Itália, Estados Unidos, Sérvia, Alemanha e Brasil são alguns exemplos de países que aceitam a emenda. Outros, principalmente de cunho socialista, rejeitam a proposta, tais como Rússia, Cuba, China e Coréia do Norte. Vale dizer também que países declaradamente em estado de guerra, tendem a rejeitar a dupla cidadania. É o caso da Coréia do Sul, que aceitava a atitude até entrar em conflito com a vizinha Coréia do Norte. Entretanto, vale dizer que o que importa à FIVB são dois dados: a federação de registro e a legalidade de uma possível troca de federação, conferida através do passaporte do solicitante. Para atuar em seleções nacionais, cada jogador só pode ter 2 federações registradas em sua carreira e cada seleção só pode conter um jogador que tenha atuado por outra federação em sua composição.

Cuba 

A principal exceção sobre naturalizações vem de Cuba. O país rejeita totalmente uma segunda nacionalidade e só recentemente aboliu o veto de que suas atletas de seleção não poderiam atuar em clubes de outros países. Agora, desde que a federação libere e agencie a transferência, ela permitida. Se não vale a regra antiga: 2 anos totalmente afastado do esporte e nunca poder defender a seleção nacional. 

Citaremos agora alguns casos de nacionalização pelo vôlei feminino mundial:

Processos de Naturalização reconhecidos pela FIVB

Taismary Agüero

Bicampeã olímpica (1996 e 2000) com Cuba, a ex-levantadora/oposta da seleção foi uma das primeiras a desertar da ilha. A cubana nascida em Yaguajay, deixou de vez a seleção principal do país em 2001, quando abandonou a delegação durante o Montreux Volley Masters daquele ano e pediu asilo à Itália, onde já jogava pelo Sirio Perugia. Em 2006 ela se casou com o fisioterapeuta italiano Alessio Botteghi e conquistou a cidadania do país. No ano seguinte, mesmo sobre intensos protestos da Federação Cubana, a FIVB concedeu-lhe o aval federativo para atuar pela Itália e em 2008, Aguero jogou as Olimpíadas pla Itália. Conta-se que a família de Aguero sofreu ameaças e ataques pela fuga da jogadora.

Tay Aguero jogou 3 olimpíadas: 2 por Cuba e 1 pela Itália


Ana Cleger Abel, Yoana Palacios, Wilma Salas e Gyselle Silva

Deserção quádrupla quando Cleger, Palacios, Salas e Silva resolveram jogar no Azerbaijão, após 2 anos de cumprimento do período chamado de "carência". Em uma manobra polêmica e estrategicamente financeira, o Rabita Baku iniciou o processo de concessão de troca de nacionalidade das cubanas. Para isso, em 2014 as quatro jogadoras casaram-se com cidadãos azerbaijanos e assim, tomaram a cidadania o país. Qualquer uma delas é liberada a atuar pela seleção do Azerbaijão.

Silva, Salas e Cleger, além de Palacios, são as 4 cubanas naturalizadas azeris


Rosir Calderón

Nascida em Havana, a capital de Cuba, Calderón é o mais recente caso de uma cubana a desertar da ilha. Rosir casou-se na Rússia e construiu família por lá, enquanto jogava pelo Dínamo Krasnodar. Desde então, a medalhista de bronze em Atenas perdeu a cidadania cubana para a Rússia. Mas não pelos fins de sua carreira, mas pela sua família. Inscrita pela federação do país, a jogadora inclusive chegou a declarar que não tem planos de atuar pela seleção russa. 

Rosir Calderón foi a cubana mais recente a receber concessão de naturalização da FIVB


Carolina Costagrande

Dos casos apresentados, esse é o primeiro de dupla civilidade: Costagrande é uma ítalo-argentina, uma vez que os dois países concedem cidadania à jogadora. Carol nasceu na província argentina de Santa Fé e defendeu a seleção da Argentina até 2002. Porém a jogadora vivia na Itália e atuou no país por 12 anos consecutivos. No entanto a Federação Italiana só requereu a concessão de nova nacionalidade federativa em 2009. Costa ainda é recorrentemente selecionada pela seleção italiana.

Nada de Argentina: Costagrande quis a Itália


Foluke Akinradewo

A central americana tem outro caso curioso: Foluke é filha de pai nigeriano, mãe americana e é nascida no Canadá. Portanto, tem tripla nacionalidade. Mas Luke foi federada por apenas uma nação: os Estados Unidos. 

Independente de descendência ou de nascimento, Akinrdewo é americana!


O Leste Europeu e suas exceções

Muita confusão é gerada a partir daqui. Várias jogadoras nasceram ainda durante a composição de blocos de países da Europa, como a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a Iugoslávia. Na URSS, os conceitos de cidadania e naturalidade apresentam necessidade de distinção: cidadania soviética e nacionalidade à república que pertenciam. Isso é diferente para a Iugoslávia.

Nataliya Goncharova

O caso da oposta Goncharova é de simples naturalização: Natasha nasceu durante o regime soviético, na cidade de Skole, território da Ucrânia. Após a dissolução da URSS, a jogadora manteve-se como ucraniana e até defendeu seleções de base do país. Portanto, Nataliya foi federada como ucraniana e posteriormente como russa, sendo assim naturalizada. O caso de sua irmã, Valeryia Goncharova, é exatamente igual.

Fenômeno da Rússia? Nem sempre. Goncharova já foi o fenômeno da Uncrânia 


Anna Makarova

Talvez você se lembre pouco dela, mas Makarova foi uma das opostas a integrar a seleção russa desde 2009, em campeonatos como o Grand Prix e o Europeu. Em 2010 ela se envolveu em um polêmica com a federação russa sobre uma suposta recusa à convocação, que a jogadora negou e daí em diante, passou a disputar um espaço especial na seleção Anna nasceu em Zaporizhzhya, Ucrânia e com a chegada de Goncharova ao time principal da Rússia, perdeu espaço.

Além da disputa técnica, Makarova entrou em disputa de nacionalidade pela seleção russa


Brankica Mihajlovic

A ponteira da seleção sérvia é na verdade bósnia! Mihajlovic nasceu em 1991 no Distrito de Brčko durante a antiga Iugoslávia. Com a dissolução do país em 1992, a jogadora assumiu a nacionalidade de Bósnia, país do qual chegou a defender a seleção em 2007. A influência do país, o alto nível de voleibol e as diversas fizeram com que a Federação Sérvia  e o técnico Zoran Terzic convidassem a ponteira para naturalizar-se e defender a Sérvia nos Jogos Olímpicos de Londres. Autorizada em 2012 pela FIVB, Brankica estreou.

É Sérvia: naturalizada às pressas para jogar Londres, Mihajlovic tornou-se um dos maiores sucessos da Sérvia


Victoria Ravva

Caso raro e complicado da central ícone do RC Cannes: Ravva nasceu na Géorgia, também durante o período soviético. Estreou em um grande time pelo Azerbaijão, o BZBK Baku e com a dissolução da URSS em 1992, assumiu a cidadania do país que a federou: o Azerbaijão. Chegou ao Racing Club Cannes em 1995 e posteriormente casou-se com o também jogador de vôlei e geórgio naturalizado francês Alexandre Jioshvili. Em 2002 Ravva requereu a naturalização pela França e atuou na seleção principal de 2004 a 2007.

Complicada e perfeitinha: a ex-jogadora Victoria Ravva passou por 3 nacionalidades 


Polina Rahimova

Mais uma soviética, essa usbeque naturalizada azeri. Polina nasceu em Fergana no Usbequistão e assim como Ravva foi atraída pelo voleibol de Baku, iniciando sua carreira profissional lá. Rahimova mudou-se para o Azerbaijão em 2006 e adquiriu a cidadania azeri. A FIVB concedeu a liberação a Polina em 2007, sua estreia no time do Azerbaijão.

Polina é a principal jogadora do Azerbaijão. Mas nasceu no Usbequistão


Além de todos os exemplos citados, diversos nomes se espalham pelo voleibol mundial, masculino e feminino. A naturalização é sempre um assunto polêmico, principalmente por envolver nomes de destaque do cenário mundial, principalmente cubanos. Concordando ou não, fato é que algumas dessas naturalizações enriqueceram e muito nosso voleibol.

Comentários

  1. Poderia ter falado da mari, que tem dupla cidadania tbm. Brasil/Alemanha que até foi especulado ela disputando as olimpiadas do rio pela Alemanha rs

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    1. Bom, a Mari é federada como brasileira e não sei se ela solicitou a dupla cidadania. Vale lembrar que caso ela se naturalize alemã, perde os direitos de atleta brasileira.

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    2. A MARI já tinha passaporte alemão há muito tempo,ela tem dupla cidadania há vários anos...

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    3. Mas é federada como brasileira Ela até pode ter dupla cidadania, mas não dupla federação.

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  2. A final...tem chances do Leal jogar pelo Brasil no Rio???

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    1. Tem sim Emerson! Ele foi aceito pelo Brasil como cidadão do país, só falta agora o aval federativo da FIVB, registrando-o junto à CBV.

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  3. A Rahimova nasceu na Ucrânia ou no Uzbequistão?

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  4. Matéria interessante. A Floortje Meijners é naturalizada?

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    1. Muito obrigado Edson! Não, Floo é neerlandesa (holandesa). Ela nasceu em Oldenzaal (:

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  5. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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    1. Qual motivo da exclusão do comentário?

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    2. Perdão, eu viria pedir desculpas agora, na verdade entrei só para isso. Excluí por celular por engano quando tentei excluir alguns meus x.x

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  6. Matéria interessante. Mudando um pouco de assunto, sei que o foco do blog é o vôlei internacional, mas o que o to fly está achando da superliga 2015/2016? O Rexona está regular como sempre, o vôlei mineiro demonstra força e o Nestlé/Osasco está muito irrgular. Das estrangeiras as únicas que estão resolvendo são as gringas do Praia Klineman e Ramirez. Kenya e Van Heck estão abaixo do esperado.
    Por fim fico feliz com o bom campeonato feito por Léia, Naiane, Ana Carol, Roberta (central do terracap_brasília),Natália e Rosamaria, e pelo ressurgimento de grandes nomes históricos como Paulo Pequeno, Walewska e Carol Gattaz.

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    1. Concordo com seu comentário. Eu gostaria muito de ver a Natália e a Gabi jogando numa liga mais forte como a russa ou a turca, com certeza elas iriam se desenvolver muito. Uma jogadora que merece ser observada é a Naiane, levantadora do Minas, na minha opinião está em melhor fase que a Macris e poderia ao menos treinar com a seleção principal.

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    2. Obrigado! =]
      Ainda vejo Rexona a frente de todos os outros, principalmente no quesito emocional. Os adversários temem e respeitam muito o time carioca e só uma definidora de verdade pode mudar isso. Grata surpresa os mineirinhos! Confio muito no Minas e o Praia tá grande, não gosto é da comissão... Cresça Osasco! Montou mal seu elenco, assim como o Sesi. Brasília e Rio do Sul estão lutando bravamento e no demais são os guerreiros da liga.

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  7. Seria ótimo se a Alix Klineman podesse se naturalizar brasileira. Claro que esse é um desejo meu como torcedor.kkkk

    Ela na minha opinião é mais completa do que Robinson, Hill e Megan Easy, no entanto não foi devidamente aproveitada pela seleção norte_americana nesse ano.

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    1. Eu não tô gostando muito dela no Brasil ainda, acho que ela jogou melhor no Novara. Se ela repetir os playoffs da última liga italiana, o Praia vai longe...

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  8. Van hecke e kenia Carcases ja estão melhorando pouco a pouco , digo KENIA, porque Van hecke está em grande faze no Osasco , só nao foi bem no jogo contra o rio , pois luizomar tirou ela do jogo precocemente. Alix no praia nao é uma atacante espetacular , mas tem belos golpes , ótimo bloqueio e um ataque técnico bom . Ramirez é uma atacante de força , mas vive de altos e Baixos . Nessa temporada ela está mostrando um pouco mais de constância. Natália pelo Rio esta voando , atacando alto , atacando forte , atacando muito bem . A recepção dela esta boa e defesas também , pena que na seleção ela mostra o contrário, mas quem sabe ela não mostra o seu cartão de visita nos Jogos Olímpicos. Eu to confiando .

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  9. Mesmo caso é o da Tijana Boskovic ela nasceu na Bósnia e hoje atua pela seleção da Sérvia

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    1. Nasceu na Bósnia e solicitou nacionalidade sérvia assim como a Mihajlovic. A diferença é que Mihajlovic foi federada e defendeu a Bósnia, Boskovic não. Boskovic foi federada em 2001 pelo Partizan Vizura, após receber a naturalização.

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  10. La mejor armadora que tuvo Perú fue también naturalizada! Elena Kaledivekova soviética de nacimiento jugó por Perú 10 años!

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    1. Verdade, conheci a história da Keldibekova em 2011 quando ela foi eleita a melhor levantadora do Sul-Americano (com Dani e Fabíola lá) e no ano seguinte, também tombou a Alisha nessa premiação. Se aposentou em 2013 né?

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    2. Tombou a Alisha na Copa Pan-Americano, nessa mesma premiação de levantadora. Só pra não ficar mal-entendido hahaha

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    3. Sí, dejó la selección en el 2012 y por su club Regatas Lima solo jugó la mitad de temporada 2013-14 ahora está en Argentina pero ya no juega. La más grande que hemos tenido en Perú y que tendremos!

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  11. A carcase do osasco e um bom nome a federação brasileira de vôlei podia olhar ela com bons olhos uma excelente jogadora

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  12. A carcase do osasco e um bom nome a federação brasileira de vôlei podia olhar ela com bons olhos uma excelente jogadora

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