A devastadora perda de Yo-Min Goo e como devemos aprender com sua história

Nós jamais daríamos essa notícia sem contar sua história.

Yo-Min Goo era uma ponteira sul-coreana de 25 anos. Aos 18 anos já defendia o time principal do Hyundai Hillstate, um dos seis gigantes de seu país. Logo na sua primeira temporada, jogou a final da Copa Coreana e seu time terminou com o vice.

Goo cresceu taticamente, despontou e foi vista como um dos destaques do Hyundai. A ponteira era a grande promessa do time e chegou a ser convocada para a seleção principal por várias vezes. Seus bons desempenhos geraram expectativa, mas a temporada 2019-2020 causou um dano irreparável.

Yo-Min Goo chora em entrevista (Foto: reprodução)


Em março de 2020, quando a pandemia de Covid-19 cancelou todos os campeonatos mundiais, Goo decidiu se aposentar. Mas, infelizmente, sua história é bem mais perturbadora do que uma simples aposentadoria precoce do esporte.

Em 31 de julho, poucos meses depois da aposentadoria, Yo-Min Goo foi encontrada morta em seu apartamento depois que uma ex-colega de time não conseguiu falar com ela por celular. As autoridades não encontraram sinais de violência ou arrombamento e determinaram a causa de sua morte como suicídio.

Violência Online: Yo-Min Goo recebeu 15 mil ofensas pela internet

O portal chinês Sina relatou um estudo feito pela mídia coreana que mostrou que a jogadora recebeu cerca de 15 mil comentários ofensivos durante a sua última temporada, devido a atuações ruins. 15 mil críticas!

Depois de já ter abandonado as quadras, a jogadora passou por uma cirurgia estética e ao postar uma foto do resultado em suas redes sociais, o inesperado: mais críticas. Internautas chegaram a dizer que Goo não mereceria realizar aquele tipo de procedimento, já que seu desempenho em quadra não era bom o suficiente.

A então ex-jogadora chegou a enviar uma mensagem em resposta pedindo que cessassem os comentários e recebeu mais críticas, mais ofensas. E não suportou.

Mas por que as críticas?

A própria Yo-Min Goo explicou, mas infelizmente a entrevista concedida ao canal Spocado só foi publicada no Youtube após sua morte. A entrevista foi gravada em 12 de julho, poucos dias antes do ocorrido, e Goo chorou do início ao fim.

A chuva de críticas deu-se quando a jogadora mudou de posição. Ponteira desde o início de sua carreira, em 2019 passou a atuar como líbero substituindo a titular de sua equipe que havia se machucado. E foi seu baixo rendimento na posição que não era a sua que a fez ser linchada virtualmente. Mas a decisão de mudar de posição não foi tomada por ela.

Mesmo sem querer, Yo-Min Goo foi "orientada" a jogar como líbero do Hiunday (Foto: KOVO)


Goo tinha uma lesão no pé e não estava completamente recuperada quando foi deslocada para líbero. A decisão foi da equipe técnica do Hyundai e mesmo não concordando, Goo acatou. Durante a entrevista, a jogadora falou sobre a situação. "Jogo na ponta há 14 anos e não consegui entender porque deveria trocar para uma posição em que eu nunca havia jogado". Mas a comissão técnica desdenhou e disse que não havia motivos para que ela não jogasse como líbero, afinal, ela era uma jogadora de vôlei.

A jogadora contou também que sentia vergonha e tristeza pelo seu desempenho, que fingia estar bem, lutava, mas não estava. Durante a entrevista, Goo conta ter sofrido ataques de torcedores e até mesmo de membros do clube, como jogadoras. Estarrecedor!

O silêncio do Hyundai Hillstate

Nada foi dito pelo Hyundai Hillstate desde a morte de Yo-Min Goo. 

Nenhuma manifestação de pesar, de luto, de condolências ou de dor. Em seu site oficial e na página do time no Facebook não há postagens desde o final de julho. Silêncio.

A atitude (tardia) da KOVO

A Federação Coreana (KOVO) se manifestou na última terça-feira (04). A KOVO impôs novas regras aos times de seu campeonato:

1. Moderação dos times aos comentários em seus portais e redes sociais;
2. Reforçar os centros de atenção às reclamações dos jogadores e fazer com que haja punição;
3. Fortalecer os setores psicológicos e de treinamento mental para atletas.

Um doloroso aprendizado

Se eu pudesse fazer um pedido, seria para que as informações dessa matéria, uma das mais difíceis que já escrevi, pudessem nos causar algum aprendizado. Que tipo de pessoas queremos ser quando nos dirigimos até o perfil pessoal de um atleta para ofendê-lo? O que carregamos com essa atitude? É necessária?

Há poucos dias atrás, um jornalista de um grande jornal brasileiro se referiu a uma jogadora da nossa Superliga com transtorno de pânico como alguém fraca e "sem cabeça". Lembrando que esse transtorno é reconhecido pela Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde. Esse tipo de comentário é realmente necessário?

Há quem defenda que atletas são pessoas públicas e que devem se acostumar com isso, mas esportistas não são celebridades e ainda que fossem mereceriam respeito como qualquer um. 

Infelizmente é tarde demais para Yo-Min Goo. Ao publicar a entrevista que chocou a Coreia muito além das quadras, a produção disse: "Estamos enviando um vídeo a pedido de uma sobrevivente que não quer mais ter jogadores com doenças".

Descanse em paz, Yo-Min Goo. Daqui para frente, todos nós tentaremos ser pessoas melhores em sua memória.

Yo-Min Goo (Foto: reprodução)

Você precisa de ajuda? 

Sua vida é muito importante e se você se sente mal e quer conversar com alguém, existe um serviço gratuito e sigiloso que é o Centro de Valorização à Vida ou Como Vai Você? 

Através do CVV, você pode entrar em contato com voluntários capacitados para conversar com você. O serviço é seguro e apoiado pelo SUS. 

Você pode: 
Todas as informações podem ser encontradas aqui: https://www.cvv.org.br/

Se você quer ajudar alguém, leia as informações do Ministério da Saúde https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/suicidio


Comentários

  1. Foi a matéria mais difícil de ler e acreditar. Como podem "torcedores" e "membros da própria equipe" fazer isso com uma atleta? Que se dedica, que deixa sua família para treinos, competições, viagens, que tem de cuidar do seu físico e psicológico para estar sempre em alto rendimento. Difícil enxergar essa terrível realidade, de ver como a sociedade julga e não leva em conta os esforços da atleta. Que Deus a tenha Yo-Min Goo, e que a perda de sua vida, leve muitas pessoas a repensar suas atitudes, a ter mais empatia e respeito por aqueles que defendem um clube e também uma nação.

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  2. Parabéns pela grande reportagem, infelizmente o cyberbullying é cada vez pior e constante no mundo esportivo, muito triste isso !
    Importante que os atletas recebam apoio e suporte tanto dos clubes, como das federações e da mídia, e que cada vez mais haja campanhas de conscientização e o combate ao cyberbullying e os haters.
    Muito triste ver uma vida jovem e com tanto potencial para ser feliz, ser perdida dessa forma triste, só oro para que ela possa está em paz agora onde ela estiver.

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  3. Pois é, ciberbulling, ofensas, e tantos coisas e as pessoas acham que a vítima é uma planta que não sofre com isso. Mas vai uma crítica aos fãs de vôlei, incluindo do Brasil e que também batem ponto aqui nesse blog. Tem uns aqui que praticam essa atrocidade sem dó.

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  4. Muito triste a história, o fim. Mas críticas existem e não é de hoje em qualquer área. Não acredito que sejam as críticas o grande problema, mas o valor que damos. Do ponto de vista psicológico, clubes, empresas e família têm que observar o comportamento e buscar sempre ajudar.

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    1. O problema é as críticas sim! Não tem como relativizar a situação. As pessoas usam "crítica" e "opinião" para destilarem ódio através de comentários maldosos. Nem mesmo as pessoas com o melhor acompanhamento psicológico ou a personalidade mais forte aguentam a pressão de verem seu trabalho menosprezado por pessoas que ela nem conhece nem que fizeram 1% do esforço que despenderam para chegar ao nível que chegaram. É desumano, e não precisa ir longe para ver esse tipo de coisa acontecer. Literalmente qualquer postagem é alvo de maldade alheia, de gente que se sente no direito de apontar o dedo e xingar alguém sem ao menos ter qualquer entendimento sobre o que outro está passando. As pessoas precisam guardar seu ódio e rancor para si mesmas, palavras matam e o caso da jogadora coreana é um grande exemplo.

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  5. Amei que você tenha abordado o tema, não vi nenhuma materia em outros portais de volei. Triste de ver que a internet virou uma terra sem lei , e que muitos se acham no direito de julgar sem pensar nas consequencias de suas palavras.

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  6. Toda pratica do bullying e cyberbullying devem ser punidos. O bullying é mais difícil de reagir, neste caso pessoas ligadas a vitima devem interceder e atacar os algozes. Acho certo quando pais e parentes entram em cena para revidar o bullying severamente!!! Nos casos do bullying virtual, a vitima podo reagir, pode ignorar os ataques que são via tela do computador, mas o bullying real é Nocivo! É grave!!! Pais, professores, parenteses ou algum adulto deve revidar pesado!! contra o agressor!! já que a vitima é incapaz, não sabe resolver. No Volei há cobranças grandes!! Há casos de ataques contra a moça transsexual e ataques contra outros rapazes. Há racismo também.

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  7. bem vindo a sociedade coreana, japonesa e chinesa...se vc não e o melhor vc e massacrado tanto pela familia como pela sociedade...por isso o alto numero de suicidios.

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  8. Crente que não crê no que acabou de ler...12 de agosto de 2020 às 11:52

    Meu Deus! Gente que horror, que fique a reflexão mesmo, para que a gente não acabe caindo na mesma armadilha de criticar sem nem se dar conta do impacto que isso pode causar em quem está recebendo aquelas críticas/comentários.

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  9. Jornalista psicofóbico. Dizer que um atleta é fraco e sem cabeça é Psicofobia, e isso é crime!
    Sinto muito pela jogadora Yo-Min Goo.

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    1. Não conhecia esse termo! Eu queria saber que jornalista é esse, pq não gostaria de prestigiá-lo mais. Não ofenderei, acho que quando não concordamos, é só não acompanhar. Muito triste tudo isso

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