Dias melhores virão

A vida é uma luta constante para todo mundo, mas existem causas que precisam de nós para que todos tenham direito de continuar suas lutas sem obstáculos. O caminho que jogadoras de voleibol trilharam até aqui foi árduo, mas também houve muitas vitórias!

É verdade que mulheres levaram 28 anos para terem direito à mesma quantidade de equipes olímpicas do que os homens e é verdade que levaram-se 36 anos para uma africana pisar em uma olimpíada. Doloroso e nada vai substituir a ausência daquelas que não puderam participar. 
 
Mas também podemos comemorar a igualdade de equipes alcançada em 1996, podemos comemorar a festa que as quenianas farão na sua terceira olimpíada, sem nunca ter vencido um jogo na competição, mas se divertindo como se fossem campeãs. E quem vai dizer que não são? Batalhadoras, normalmente com um emprego além do vôlei, pouco recurso. Isso é o esporte!

Atacantes quenianas comemoram durante qualificatório olímpico (Foto: FIVB)


Na Superliga Feminina, depois da união de atletas, da torcida, da mídia de comunicação, a diferença foi derrubada por pressão: o ranking não existe mais! A partir deste ano, cada jogadora vai finalmente escolher o time em que quer jogar, que pode contratá-la, que ela possa escolher independente de qualquer fator restritivo e sem nenhuma votação para impedir. As mulheres brasileiras venceram!

Macris assumiu seu lugar na seleção por direito e está livre do ranking (Foto: FIVB)


A vitória ainda não chegou para as jogadoras argentinas, mas a união do Colectivo Doble Cambio já é uma grande vitória. Agora, elas mostram resistência! Eu gostaria que houvesse equidade, ou seja, que cada um ganhasse o que merece, nunca menos", é o desejo de Majo. "Quero ver mudanças nas quais deixemos de ser minoria, porque não somos: mulheres federadas dobram o número de homens. Quero que o nosso voleibol cresça e a liga se torne cada vez mais competitiva e que jogar no exterior não seja por necessidade, mas por escolha", reforça Antonela. 

Vocês conseguem sentir a força desses desejos e dessas mulheres que se expõem e arriscam suas carreiras por um ideal? Florencia os intensifica:

"O convite que fazemos é a abertura para questionar as "verdades absolutas" com as quais crescemos e que distorcem as desigualdades: "ganhar para pedir", "nos grupos de mulheres sempre há conflitos", "a melhor quadra e horário são para homens"," o vôlei feminino não dá lucro". Essas idéias ou frases foram geradas relacionando certos valores para o feminino e outros para a construção da masculinidade. Você não pode pensar na profissionalização do vôlei feminino sem assumir uma desigualdade. Quando alcançamos pequenas mudanças estruturais nos paradigmas de pensamento, podemos pensar em melhorias materiais. Elas serão uma consequência".

Panteras, com essa fúria a vitória de vocês é questão de muito pouco tempo! E falando em vitórias, que tal lembrarmos de Claudinha? Será que ela ficou muito abalada com aquele episódio lamentável? Bem, se ficou, não foi sentido em 2018, quando Claudinha foi eleita a melhor jogadora da final da Superliga no título inédito do Praia Clube sobre o Rio de Janeiro. Esse título não é para qualquer uma, inesquecível! É só isso, o resto dispensa comentários.

Claudinha comemorando na partida em que saiu campeã (Foto: Alexandre Loureiro/Inovafoto/CBV)


E o que dizer do acolhimento a Alessia Orro? A forma como suas companheiras de time a abraçaram durante essa questão grave da perseguição, a força de continuar treinando, continuar jogando e continuar indo à luta, mesmo com tanto medo. Coragem, afinal, não é ausência de medo, é a disposição para enfrentá-lo. Aqui sobrou.

Alessia Orro recebe abraço carinhoso de Britt Herbots durante jogo; levantadora relatou que companheiras de time deram força a ela (Foto: Gabriele Alemani/UYBA)


E será que não estamos evoluindo nas questões de liderança? A China de Lang Ping é campeã olímpica, o Japão de Kumi Nakada é campeão asiático. "O meu desejo é que houvesse tantas técnicas mulheres quanto técnicos homens. Isso ainda não acontece, mas essa é uma forma de enfrentarmos o machismo estrutural, aquele que, mesmo quando acontece, faz a mulher ser questionada", diz Jeanyce Araújo. E resta alguma dúvida de que as mulheres são totalmente capazes?


Uma foto extremamente pesada: Lang Ping e Kumi Nakada, técnicas de China e Japão respectivamente. Duas mulheres em meio a tantos homens (Foto: reprodução/Facebook)


Mesmo com tantos problemas, a árbitra Paula Silva é positiva. "Nem tudo é ruim, tem muitos pontos positivos também. Alguns reconhecem o nosso trabalho, até mesmo se perderem o jogo". Valorização: é isso que sua colega Débora Santos prega. "Se dá muito mais valor às competições masculinas do que às femininas, mas no meu entendimento as femininas atraem mais público. Porque tem mais rally, porque tem mais jogo, porque as meninas participam mais com a torcida", diz.

Esperança! E muita luta. Essa reportagem chega ao fim com um pensamento de esperança, de quem sabe o que é perder, lutar, recomeçar e vencer. "Nesses últimos anos estamos começando a colher alguns frutos de anos de luta por igualdade. Essa luta está longe de acabar, mas pela primeira vez, sinto que estamos no caminho certo!", esse é o sentimento de Joycinha.

Vôlei é coisa de mulher, de homem, de quem quiser! E enquanto tivermos nomes na história como os que foram descritos nessa série de reportagens, haverá muita luta e muita resistência. Esse jogo não acaba no tie-break, esse é o jogo da vida. E pode até demorar, mas a gente vai vencer...

Obrigado!
Gustavo Aguiar

Esperança pelo que vem pela frente e fé no futuro (Foto: reprodução/Facebook)




Agradecimentos

Foi muito difícil chegar até aqui, então muito obrigado: aos céus, à minha família, aos meus amigos, a toda a minha turma da PUC, à minha orientadora Marialice , ao José Alberto Rodrigues e ao Fernando Oliveira. 

Às melhores fontes do mundo: Joyce Gomes, Florencia Corradini, Antonela Curatola, Majo Prunetti, Débora Santos, Paula Ferreira Silva e Jeanyce Araújo por terem confiado nesse trabalho e aceitado participar desse projeto.

Meu muito obrigado especial a quem ajudou diretamente na construção dessa reportagem: Julieta Lazcano, Dalcira Ferrão, Jhienny Stefane e Ruan Ibrahim. 

E, mais do que nunca, a TODOS vocês que chegaram até aqui. Vocês são incríveis, como agradecer?

Comentários

  1. Você arrasou demais Gustavo! Nem consigo dizer qual a melhor matéria. Parabéns e que você possa colher ainda mais frutos desse seu trabalho incrível, único e digno do profissional que você é. Obrigado por tudo!

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  2. Notadamente um primor esse seu dossiê.Tomara que esteja logo ,logo disponível o seu trabalho acadêmico para gente leti.bj gde

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  3. Parabéns pelo belo trabalho, e muito obrigado por dividir isso conosco aqui no blog.

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