5 vezes em que a Rússia levantou suspeita de doping no vôlei feminino

O escândalo do doping envolvendo a Rússia abrange também o voleibol feminino. Até o momento não houve nenhuma prova de que alguma jogadora da Federação tenha jogado sob efeito de substâncias ilegais.

Entretanto, pistas não faltam. Entre 2015 e 2016 a Rússia teve uma série de cortes, dispensas, lesões, ausências e convocações até mesmo bizarras e injustificáveis. Aparentemente a seleção estava precavida, mas não há nada de concreto.

O objetivo deste post não é afirmar que as jogadoras russas participaram do esquema criminoso de doping do país e sim apresentar motivos que possam nos levar a discutir se isso foi ou não possível, se faz ou não sentido. Acompanhem:

A ausência de Gamova e Startseva no F4 da Champions League

A primeira pista sobre o envolvimento polêmico da Rússia com o doping aconteceu em abril de 2016, durante as finais da Champions League. O Dínamo Kazan enfrentou o italiano Pomì Casalmaggiore em partida única da semifinal do torneio, mas as estrelas Ekaterina Gamova e Evgeniya Startseva não foram relacionadas pelo clube russo. As selecionáveis também não atuaram na disputa do bronze, embora tivessem sido vistas (e fotografadas) na Itália.

Posteriormente o Kazan declarou que Gamova e Startseva haviam sofrido uma intoxicação alimentar um dia antes da partida de semifinal. Entretanto, houve o rumor de que as jogadoras evitaram o exame antidoping. Na ocasião, um portal italiano divulgou que a CEV usaria os testes por coleta de sangue e não de urina como habitualmente é feito. Meldonium, uma substância conhecida na Rússia por tratamento de lesões físicas, só é detectado pelo sangue. Gamova e Startseva sofreram lesões em 2015 e a substância foi proibida pela WADA em 2016.

Meses antes, a ex-número um do tênis mundial Maria Sharapova já havia sido flagrada pelo uso desta substância - a mesma que Tatiana Kosheleva já havia assumido seu uso (quando ainda não era proibida).

Startseva e Gamova durante a chegada do Dínamo Kazan em Montichiari, sede do Final Four de 2016 da Champions (Foto: reprodução)

A aposentadoria de Gamova e Sokolova

O mundo todo esperava uma Rússia em 2016 com as lendárias Ekaterina Gamova e Lioubov Sokolova e só seus nomes, bicampeãs mundiais, impunham respeito. Entretanto, isso não se concretizou. As convocações até chegaram a acontecer, as jogadoras estiveram entre as relacionadas no ano, mas em maio, menos de três meses antes da Olimpíada do Rio, Gamova e Sokolova anunciaram suas aposentadorias no mesmo dia.

Gamova decidiu se aposentar de vez, mesmo estando tão perto da competição em que sempre sonhou vencer. Sokolova alegou que não participou da seleção durante o ciclo todo e que, portanto, não seria justa a sua participação olímpica. Mas isso precisava realmente ter vindo à tona cerca de 60 dias antes da lista final?

Sokolova e Gamova anunciaram suas aposentadorias no ano da Olimpíada (Foto: FIVB) 

Os cortes de Startseva e Ilchenko

O ano de 2016 caiu como uma bomba para a Rússia e o que ficou mais difícil de explicar foram os cortes da lista final de Yuri Marichev. O técnico deixou de fora ninguém menos do que Evgeniya Startseva, campeã mundial em 2010, eleita a melhor levantadora de Londres e atual titular da seleção russa. 

Melhor levantadora de Londres, Evgeniya Startseva acabou cortada pela reserva de Pankova no Dínamo Moscow (Foto: FIVB)


Tão ruim quanto foi o corte de Ksenia Ilchenko (Parubets). A ponteira tinha acabado de ser campeã europeia como titular com a seleção russa, segurando o passe 'sozinha' com a líbero Malova para cobrir Kosheleva. Um ano depois, Marichev disse que a jogadora não teve desempenho bom o suficiente e a deixou de fora.

Ksenia Ilchenko: de titular em 2015 no título do Europeu a cortada por uma jogadora despreparada em 2016 (Foto: reprodução)

Voronkova "não estava pronta", mas foi para o Rio

Pior do que os cortes foram as convocações das substitutas. Para o lugar de Ilchenko, Marichev trouxe de volta Irina Voronkova. Entretanto, o técnico havia dito dias antes que a jogadora cometia muitos erros bobos e ainda não estava pronta para a seleção. 

Junto a essa declaração, Marichev cortou Voronkova da lista olímpica que tinha Kosheleva, Ilchenko, Shcherban, Sokolova e Pisarenko. Mas, no final, 3 dessas 5 foram cortadas e Voronkova voltou. 

Ou seja, do nada Marichev trocou uma de suas titulares em 2015 por uma jogadora que "não estava pronta". E pior ainda: não havia quarta ponteira! Marichev levou duas líberos, Malova e Ezhova.

Para Marichev, Irina Voronkova não estava pronta para a seleção - mas acabou na olimpíada (Foto: FIVB)

O ressurgimento de Vetrova

O técnico também não conseguiu justificar a convocação da levantadora Vera Vetrova (Ulyakina). No ciclo, Vetrova só havia sido convocada em 2013 e não apareceu sequer em uma lista extensa da Rússia em 2015 ou 2016. Para tornar a situação mais bizarra ainda, a terceira levantadora da equipe em 2016 era Marina Sheshenina (Babeshina), que foi convocada justamente após uma ótima temporada com Karpol no Uralochka.

Vetrova, que durante todo o ciclo foi preterida por nomes como Pankova, Starseva, Sheshenina, Matienko e Filishtinskaya reapareceu do nada em 2016, mesmo não tendo jogado o Grand Prix, por exemplo. Se ainda não estiver bom de bizarrice, mais um fato: Vetrova era a levantadora reserva de Pankova no Dínamo Moscow. A justificativa de Marichev foi de que a levantadora se conectava melhor com as atacantes (mesmo nunca tendo jogado com boa parte delas).

Vera Vetrova era reserva do Dínamo Moscow e acabou tomando a vaga olímpica de Startseva e Sheshenina (Foto: reprodução)

Comentários

  1. Outro caso suspeitíssimo foi a ausência do Muserskiy da Rio 2016. Por mim, ninguém da Rússia poderia competir daqui para frente em qualquer esporte até que todos os casos de doping desde a URSS sejam devidamente apurados. Essa história já foi longe de mais, porém nunca é tarde para dar uma basta definitivo em sujeiras antidesportivas.

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    1. Muserskiy teve depressão quando as bombas do escândalo estouraram.. Ele e Gamova já deixaram bem claro em entrevistas sobre a pressão que é jogar na Rússia. Deixando ainda mais clara a pressão que essa federação escrota e uma corrupção sistemática impõe aos atletas. Fico pensando as quantidades de vezes que a Gamova não jogou entupida, mesmo não gostando dela como pessoa, não deve ser nada fácil.

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    2. Correção:
      Deixando ainda mais claro, em entrelinhas, a pressão que essa federação escrota e um programa sistemático de doping impõe aos atletas* Existem indícios de jovens sendo coagidos por comissões técnicas desde a base.

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    3. Eu não tenho pena de quem se sujeita a esquemas criminosos. A graça do esporte é ganhar pelo mérito e não na base da trapaça. Considerando que essa nojeira acontece pelo menos desde 1968, quantos dopados competiram pela Rússia ao redor do mundo? É muito injusto e revoltante.

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    4. Também não tenho pena de quem trapaceia.
      Do nada me peguei pensando em Mari Steinbrecher e de como a carreira de quadra dela poderia ter sido diferente se ela usasse de meios ilícitos para ter “driblado” as contusões e ter mantido o nível a partir de 2012. Ela certamente seria bicampeã olímpica. Será que valeria a pena correr o risco de manchar uma carreira como a de uma atleta como ela? Será que depois de ser descoberta, os seus fãs ainda a seguiriam e a defenderiam como fazem até hoje? Será que o seu talento seria questionado?... Mari não é a única, tantas e tantas outras poderiam ter ido pelo caminho mais fácil e não foram. Por isso sou admirador dela e de quem faz esse esporte de maneira limpa, mesmo que para isso pague o preço mais alto para um atleta de ponta, que é encerrar sua carreira precocemente.

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  2. Não se discute também como são feitos esses lobbys para determinar uma substancia proibida ou liberada. É muito fácil taxar os atletas de "trapaceiros", essa politica de determinação do que é dopping é bastante obscura. Imagino que drogas e suplementos para recuperação, todos os atletas de alto nível devem usar, portanto, em vez de apenas acusá-los de maneira individual, é preciso esclarecer essa política e as disputas de poder e dinheiro que estão por trás.

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  3. Nenhuma dos russas jogaram sob o efeito de substancia que leigos falam que é doping. Ora, se determinado medicamente em um pais é usado como substâncias para tratar lesões e há eficiência nisso - o organismo responde! A sua saúde melhora! Medicamento que é publico e conhecido nas redes hospitalares no pais - não há proibição quanto ao uso - falo nesse aspecto de uso na Rússia. Mas, e os tratamentos em outros países? O ocidente, em tempos atuais, tentam criar factoides!! Ora, essa mesma substancia é usada em vários países, principalmente nos USA, mas lá tem outro nome! lá é uma inovação da ciência - lá é made in USA - lá são feitos testes e blá blá blá, então o da Rússia não pode??? investiguem o alto rendimento dos atletas americanos!!! O que tomam os nadadores americanos??? E os velocistas!! Lá o doping ( usando essa palavra) é tão sofisticado que nenhum exame detecta!!

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  4. Não tinha lido o comentário anterior do colega acima.. Mas o raciocínio é este: o que é considerado doping ou medicamento? É determinado a partir de qual direcionamento? Se uma substancia for desenvolvida no Irã, criada nos laboratórios do Irã terá a mesma aceitação mundial ? se essa mesma substancia (com outra denominação) for criada nos laboratórios dos Estados Unidos, como será aceita? ( eles só divulgam o que querem). Por exemplo, ha países que incentivam o uso da maconha como meios de obter resultados na melhora do organismo e ha países que proíbem!! Diversos brasileiros usam entorpecentes proibidos!!!

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  5. O meldonium só foi considerado doping a partir de 2016; portanto é bastante improvável que o time Russo perca as medalhas conquistas no mundial feminino em 2006 /2010 e a olímpica no masculino em 2012. Se houve o uso de outras substâncias significa que o controle antidoping é bastante falho. Lembrando que nos anos 80 as equipes americanas de atletismo eram sinônimo do doping de última geração , cujas substâncias ainda não eram detectadas nos exames ; exemplo mais perfeito era da velocista Florence Grifith Joines , que quebrou todos os recordes e se aposentou rapidamente devido as acusações de uso de anabolizantes .

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    1. Interessante essa colocação. No ciclo olímpico de 1988 , em Seoul, South Korea, o atleta brasileiro Joaquim Cruz, então campeão olímpico dos 800m, acusou Florence em plena Olimpiada, na véspera da final onde provavelmente venceria, segundo 10 entre 10 experts. Segundo Cruz Florence tinha aparência um pouco masculinizada, insinuando que a mesma teria competido claramente a base de doping. Lembro-me bem de Joaquim Cruz suspeitando da condição da americana, falecida poucos anos depois. E não era só ele. As incríveis marcas dela nos 100, 200 m e 4x100, ouros olímpicos naquele ano, seriam frutos de doping, segundo muitos atletas. Joaquim só teve a coragem e dizer. A repercussão de suas palavras o abalaram e o mesmo ficou com a prata por erro de estratégia. Depois ainda teve que se retratar, dizendo que fora mal interpretado. Os americanos provavelmente desenvolveram tecnologia com relação a drogas no atletismo, mas nunca foram pegos naquela época.

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  6. Na época do Karpol teve também o sumiço da Anastasiya Belikova nos Jogos de Atenas 2004. Ela jogou o ciclo inteiro e não foi convocada pras Olimpíadas. Em seu lugar foi convocada Olga Nikolaeva, que não participou em nenhum momento do ciclo 2000-2004.

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