A Dama de Ouro da China

O resultado do incrível ciclo de Lang Ping, já era de se esperar. Tudo começa em 2013 quando a atual técnica da China assume a seleção das mãos de Yu Juemin. Seu antecessor fracassou no ciclo, não teve nenhum resultado considerável além de um único título do asiático. Jenny veio com uma missão ousada, devolver à China seus dias de glória no vôlei feminino e fortalecer sua base. O trabalho da técnica sempre foi inquestionável, vide o que foi feito em 2008 com a seleção americana, onde Jenny criou um monstro que chegou à final olímpica, mas não suportou outro monstro ferido em 2004: o Brasil. Na ocasião, Lang Ping optou por renovar e trazer jogadoras bem jovens à seleção como a ponteira Ting Zhu, na ocasião com 18 anos, jogadora do Henan e até então desconhecida da grande maioria do público do voleibol mundial. Em 2013 Zhu estreava seu primeiro Grand Prix e logo naquela ocasião a China levou medalha - o que não acontecia desde 2007 - ficando com a prata. Essa era a primeira pista do ciclo que faria Lang Ping. Em 2014 a China vem forte e já surpreendendo, ao derrubar por exemplo as donas da casa no Mundial da Itália e chegar à final contra a poderosa seleção dos Estados Unidos. Os EUA foram a grande 'pedra no sapato' do ciclo chinês. Ainda assim, a prata foi o melhor resultado da China desde 1998! O mérito americano ficou por caçar e anular Zhu. A base do time vice-campeão mundial tem que ser lembrada: a levantadora Wei, a oposta Zeng, as ponteiras Zhu e Hui, as centrais Yang e Yuan e a líbero Chan. 

Harmotto bloqueia ataque de Zhu na final do Mundial 2014


A primeira má notícia para Jenny viria ainda no final daquele ano: Quiyue Wei sofreria uma lesão e ficaria parada por meses. Em 2015 e 2016, Lang Ping usaria a mesma tática: jogar as primeiras fases do Grand Prix com time principal e poupar-se para outras competições no Final Six. Sem Wei, quem assumiu a titularidade da seleção foi a levantadora Jingsi Shen e pelas mãos de Shen passaria então o ano de 2015, importante para a classificação da China. Mais uma má notícia, titular absoluta e capitã de Lang Ping, a ponteira Ruoqi Hui foi diagnosticada com um sério problema cardíaco às vésperas da Copa do Mundo. As chinesas ficaram muito abaladas, a imprensa deu um grande foco ao time de vôlei feminino e a promessa de Jenny foi: jogaremos por Hui. E jogaram: a China foi a seleção que mais pontuou no torneio, foi campeã e garantiu sua classificação aos Jogos do Rio ainda ali, em 2015. Gigantes como EUA, Japão e Rússia teriam de esperar um pouco mais pelo menos. As boas notícias finalmente chegaram à China, Wei retornava aos poucos e em janeiro de 2016 Hui, a quem acreditou-se que nunca poderia jogar, entrava em quadra pela primeira vez. O campeonato chinês mostrava Zhu voando, Zhang em fase incrível e um grande repertório das levantadoras chinesas.

Comemoração chinesa com a Copa do Mundo 2015


Chegamos a 2016 e Lang Ping tinha várias opções: 3 levantadoras, 3 opostas, 5 ponteiras, 4 centrais, 2 líberos. No levantamento optou por Wei e Ding, apesar das grandes atuações de Shen em 2015. Seria justo? Acontece que Shen não repetia o bom trabalho e era Ding que vinha tirando a China do sufoco. Wei atuou bem menos, mas era a mais experiente - justifica-se assim a escolha das duas levantadoras. Na saída de rede duas opostas jovens, Yang e Gong, deixando de fora a experiente Zeng, vice-campeã mundial que atuou em Londres. Jenny foi ousada e aí, não acertou. Nas pontas a técnica levou seu melhor tático - Zhu, Liu, Hui totalmente recuperada e Zhang. O caso de Changning Zhang chama a atenção, ela era oposta reserva e Jenny atribuiu a ela a função de ponteira titular durante a lesão de Hui. Bem, o resultado da Copa mostra que deu certo e a técnica resolveu mantê-la assim. As centrais foram Yan, Yuan e Xu, uma vez que Yang teve problemas físicos. A líbero é inquestionável, Lin surgiu no meio do ciclo e melhorou muito o sistema defensivo chinês.

Corte de Zeng foi uma das maiores surpresas na convocação olímpica


A Olimpíada

Treinando desde fevereiro enquanto algumas seleções só começaram 2 meses antes dos Jogos, esperávamos mais da China. Logo na estreia uma surpresa: um jogo que deveria ser fácil acabou em uma vitória surpreendente da Holanda de Sloetjes por 3x2. Mas calma, Itália e Porto Rico viriam na sequência com campanhas fraquíssimas e garantiriam a classificação das chinesas. Por sorte delas, já que Sérvia e Estados Unidos atropelaram as rivais por 3x0 e 3x1 respectivamente. Perdeu-se o respeito pela China, 4ª do grupo B - de onde se esperava até uma liderança. E agora era sua vez de ser punida e pegar simplesmente as atuais bicampeãs olímpicas em casa. A China precisava fazer com o Brasil o que o Brasil fez em 2012 e se vingar daquela Olimpíada de Pequim em que foram eliminadas em casa pela seleção brasileira, campeã do torneio. Mas ali, Lang Ping já tinha uma nova visão de seu time. A técnica percebeu que nem Gong e nem Yang eram opostas de decisão e não resolviam os problemas do time chinês naquele momento. Então, o que fazer? Basta lembrar-se que Zhang, a grande pontuadora do último chinês, é oposta de origem. E lá vem ela para a saída. Melhor ainda se você tiver uma pérola como Hui que pode te ajudar a qualquer momento, fortalecendo o passe e o ataque. Bem, Ding teve sua chance, é a vez da experiência e Wei foi a mias impressionante jogadora daquelas quartas. Dia horrível para o sonho do tricampeonato brasileiro, Zhu punha no fim o sonho da nação anfitriã - por 3x2, a China eliminou o Brasil.

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Semifinal é jogo de grande e por isso a Holanda que derrubou a China na fase de classificação foi eliminada por 3x1. As chinesas estavam na final, mas tinham sua grande rival do ciclo pela frente... Bem, não tinham. Os Estados Unidos caíram para a Sérvia na semifinal e agora, bastava à China vingar-se da Sérvia na final, outro time que as derrotou na fase de classificação. O resultado já era esperado, a China foi grande e a Sérvia caiu. O tricampeonato veio, mas à China. O ouro da seleção vermelha passa merecidamente pelo trabalho de renovação e de convocação de Lang Ping. Diferentes peças de reposição, diferentes qualidade, várias oportunidades de jogo, trabalho duro e sério - o título foi merecido. A China chega aos seu tricampeonato: Los Angeles 1984, Atenas 2004 e Rio de Janeiro 2016. Em 84 como jogadora e pela primeira vez como técnica, a maestria de "Jenny" Lang Ping é bicampeã olímpica.

Chinesas comemoram título olímpico

Lang Ping após o ouro

Comentários

  1. Parabéns para Lang Ping deu show de estrategia para cada confronto !

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    1. Jenny é incrível! Desde o trabalho nas bases, a renovação, até à recuperação olímpica.

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  2. Parabéns otimo texto é ótima técnica.

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  3. Esse foi o ouro mais feio de todos os tempos, time de uma jogadora só, que teve a S-O-R-T-E de pegar um Brasil que morreu no segundo set, por erros bobos de uma jogadora que nunca convenceu e covardia de um técnico apático e desanimador, depois pegou a "chove e não molha" Holanda, que conta com uma exímia atacante, mas que sempre pipoca em jogos decisivos e com duas ponteiras-passadoras que não sabem o que é passar uma mísera bola limpa, viu os EUA (sem Akinradewo) serem eliminados pela sempre surpreendente Sérvia (que ganha dos EUA, mas pode perder pra República Dominicana e ganha no tie-break da terrível Argentina) e aí na final, enfrentou a Sérvia, que assim como a Ágatha (do vôlei de praia), parecia já se contentar com a prata. Horrível, esse campeonato feminino de voleibol Rio 2016.

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    1. Olha, eu dou à China o mesmo mérito que o Brasil em 2012: campanhas feias, mas vitoriosas. Não tem como chamar um ouro olímpico de sorte, a China derrubou dois times grandes, Sérvia e Brasil.

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    2. Sinceramente não tem como comparar, as campanhas do Brasil em 2012 e da China 2016. Em 2012, vimos uma batalha entre os dois times, onde qualquer um poderia ter ganho e se classificado, a Rússia jogou o seu melhor voleibol, não se entregou e mesmo assim perdeu, existia a dor das derrota, mas creio que as russas sabiam que deram o seu melhor. Já agora, sabíamos que o Brasil era mt mais time, principalmente pelo coletivo (uma verdadeira equipe) e já tínhamos praticamente o jogo ganho, mas Natália começou a errar passe, atacar de forma irresponsável bolas na rede e para fora e aí quando perdemos o segundo set, percebi que não ia dar mais. Ok, China ganhou o jogo, mas não convenceu, mas elas ganharam, parabéns, mas sorte sim existiu.

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    3. Conversa fiada a sua, voce esta com invenja da China.
      Nem mesmo o Brazil no masculino em 2004 e nos Mundiais ficaram invictos.
      nem mesmo a Cuba nos anos 90 venceu as Olimpiadas sem perder.

      O que voces nao entende e que o volei esta como o futebol finalmente. Muitos times podem ganhar e muitas surpresas acontecer, assim como a Servia so vencer a Argentina por 3-2 na Copa do Mundo.

      Assim como a Servia vencer a China por 3-0 e dias depois perder por 3-1.

      Esse e o novo volei......

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    4. Ok, posso ter INVEJA da China, mas não inveNja do seu português. Cláudia senta lá.

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  4. Não... Esse ouro não foi feio. O voleibol mostrou nessas olimpíadas que é um esporte de estratégia e que ganhar sempre dá a falsa impressão de que a equipe está bem. A Lang Ping, assim como o Bernardinho, mostrou que estratégia faz bem e que renovar é preciso. A Jenny arriscou seu jogo pq confiava na estratégia. Se a China fosse a única seleção quarta colocada na fase de grupos a ser campeã, até que poderíamos creditar o ouro à sorte. Porém, o Brasil, tbm quarto lugar, foi campeão na raça, no jogo e na estratégia. Quando o jogo valeu de verdade a China mostrou um voleibol de altíssima qualidade na defesa, no bloqueio e no levantamento. Ainda bem que a China tem uma atacante do quilate da Zhu pra atacar bolas oriundas de um passe b ou c, pq elas passaram as olimpíadas inteiras jogando sem o passe na mão da levantadora. Emocionante! A China, assim como o Brasil, são as melhores seleções do século. Como todo respeito aos EUA, mas não funcionaram no momento mais importante do jogo. Não são as melhores por isto!

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    1. Boa análise, ouro por competência. Notem como a Jenny é corajosa nesse título: põe a Ding no banco, traz a Hui para a titularidade e a Zhang para a saída. Assim como fez o Brasil em 2012 mudando sua levantadora. Não dá para desvirtuar a China ^^

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  5. Sim... E a China simplesmente trouxe emoção a essas olimpíadas. Um jogo apaixonante! A China não jogou feio quando seu jogo foi mais exigido. Espero que o Brasil mostre ao mundo seus valores sub-20 e sub-23 como mostraram a Servia com a Boskovic e a China com a Tin Zhu. Tomara que o ZRG abra mão dos resultados, como a China fez, e simplesmente monte uma seleção mantendo uma base e trazendo novos talentos. O feminino, infelizmente, desde o mundial de 2014 não tem tido um time que possa, qualquer uma das 12 ou 14, serem chamadas de titulares. O voleibol moderno não pode simplesmente levar uma levantadora que não joga, uma meio-de-rede que não joga e uma ponteira de potencial como a Gabi que não é titular. Faltou ao Brasil ousadia pra mudar peças. Penso que esse ciclo precisa ser de renovação. Temos talentos como Gabi, Carol e Paula Borgo que podem manter nosso voleibol com bons resultados nos próximos anos.

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  7. Estava torcendo muito para a Servia na final, Pois acho a Boskovic a melhor oposta do mundo no momento, impressionante somente 19 anos...e a Brankika e talento puro e a Rasic tambem,,e todo o time a Maja, Malesevic, Stevanovic, Brakocevic, Bejlokic , Popovic, Busa, ZInkovic, Nikolic.

    A CHina mereceu, fase de classificao e bobeira e nao conta nada..o negocio e o mata-mata...e a China foi imbativel.

    Pena que na final a Brankika nao jogou bem e Popovic fez o pior jogo dela na historia, e destruiu a recepecao da Servia.

    Pelo segundo ano CHina e Servia no topo do podio...acho que CHina e Servia vao ser as 2 maiores potentencias no novo ciclo olimpico....Pois tem jogadoras jovens, talentosas, altas e fortes e de muita garra, alem de ser simpaticas.

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  8. Fiquei impressionado como no jogo contra o Brasil a Liu arrumou a casa chinesa.

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