O show de Rahimova e outras coisas que parecem óbvias

Existem coisas que aqui de fora são tão perceptíveis que não entendo como não surtem efeito para as comissões técnicas. Sinceramente, depois de ser liquidado no primeiro set, eu não esperava que o Sesi Bauru pudesse reagir e derrotar o Sesc Flamengo por 3 sets a 2.

São essas surpresas que fazem do voleibol tão incrível e digo mais: terminei o jogo com a sensação de que Bauru poderia ter vencido até por 3 a 1.

Meu sentimento sobre Bauru é de um time inconstante, que pode cair nas quartas ou eliminar um favorito nas semis - e esses altos e baixos entraram em quadra ontem. 

Tivemos uma atuação de gala de Polina Rahimova, se sentindo em casa, como jogava no vôlei asiático: 38 pontos, 51% de aproveitamento. Apesar da "Polidependência", vamos agora ao que parece óbvio.

Sesi Bauru venceu confronto contra Sesc por 3 a 2 (Foto: Paula Reis/Flamengo)


O passe de Tifanny não compensa o ataque

Eu não gosto de falar de jogadoras assim diretamente, mas infelizmente o passe de Tifanny parece amador, com todo respeito a ela. Existe um momento aleatório do jogo em que Lorenne sacou um flutuante reto na ponteira de Bauru, no meio da quadra, e Tifanny ainda errou o passe.

Um time que quer ser campeão não pode se contentar com tantas bolas rifadas, coladas na rede. Até pode, desde que essa ponteira compense no ataque, mas Tifanny fez 9 pontos, 6 deles de ataque. Errou 4 ataques, foi bloqueada em 3, saiu negativa em -1 no fundamento e com aproveitamento de 21%. 

Mais uma vez, com todo respeito a Tifanny, se eu tivesse uma oposta do nível de Rahimova em quadra, eu não pensaria duas vezes em insistir com Suelle e Vanessa nas pontas. Isso influenciou inclusive na derrota do quarto set, quando Tifanny voltou para fazer rede (e Vanessa estava super bem no passe). Quando Suelle se machucou, realmente não teve jeito.

Tifanny sofreu muito com saque do Rio (Foto: Nadine Oliver/Brasília Vôlei)


Saque em Amanda é o melhor caminho

Bauru passou os dois primeiros sets dirigindo o saque na líbero colombiana Camila Gomes e ela entregando saques-viagem forçados nas mãos de Fabíola. Tifanny caçada no passe de um lado e Gomes caçada do outro. Qual a lógica?

Eu entendo que o objetivo era achar Ana Cristina no passe, sendo que a recepção carioca a esconde bem. Mas entre Gomes e Amanda, em quem você sacaria? Bauru percebeu isso a partir do final do segundo set, no terceiro pressionou Amanda e o passe caiu.

Daí em diante Gomes sumiu da recepção e até Ana Cristina foi obrigada a entrar mais no passe, tamanha instabilidade a mudança gerou. No tie-break, Amanda recebeu 9 dos 14 saques de Bauru. Mudou a tempo!

Rio passou a sofrer mais quando Bauru mudou direcionamento de saque para Amanda (Foto: Paula Reis/Flamengo) 


Rio pecou no ataque

Uma Drussyla em forma faz muita falta ao Sesc Flamengo e mesmo Gabiru poderia ter ajudado ontem. Ana Cristina tem potencial de fenômeno, mas é uma menina que foi jogada em uma fogueira e o ataque não é o grande fundamento de Amanda.

Ana teve 38% de aproveitamento, enquanto Amanda teve 31%. As ponteiras de Bauru não foram referência neste fundamento, mas Rahimova foi bem mais eficiente do que Lorenne. 

Jogo pelo meio e Fê Ísis

Dani e Fabíola tem estilos parecidos, mas vi exibições bem distintas ontem. Achei Fabíola perfeita tecnicamente na maioria das vezes, altura, velocidade das bolas... Mas pecou taticamente algumas vezes, acho que poderia ter usado mais as meios.

Você dificilmente poderá dizer que "faltou jogo de meio" para Dani Lins e eu gosto disso nela. Ela improvisa chinas, arrisca chutadas, é bonito e fez diferença em Londres e no próprio Rio no passado. Mas tecnicamente Dani vem pecando muito, com bolas baixas, imprecisas, curtas, atípico para ela.

Aliás, se eu fosse Rubinho, passaria a considerar seriamente que Fernanda Ísis possa ser titular. Ela imprime velocidade na rede de dois, bloqueia bem e vem se encaixando melhor com Dani Lins. Adenízia saiu zerada no ataque ontem (apesar da imprecisão de Dani ter prejudicado).

Por fim, vimos um jogo emocionante, mas não com o melhor tecnicamente. Essas duas equipes prometem incomodar e muito no G5. Aguardemos as duas em sua melhor forma!

Sesc Flamengo 2 x 3 Sesi Bauru (25-17, 22-25, 31-33, 26-24 e 13-15)

SES: Juciely 11, Valquiria 13, Lorenne 22, Amanda 13, Fabíola 4, Ana Cristina 18 e Camila (L). Sub: Juma 1, Sabrina e Marcelle.

BAU: Mara 12, Dani 3, Adenízia 2, Tifanny 9, Rahimova 38, Suelle 4 e Castillo (L). Sub: Malu, Julia, Vanessa 4, Fê Ísis 8 e Mari. 

(Foto: Paula Reis/Flamengo)


Comentários

  1. O que é óbvio faz tempo para mim, é não parecia ser para a Dani, Anderson e Rubinho... é que Polina só joga com bola alta....ontem a Dani acordou e só levantou bolas altas pra Polina...o que aconteceu??? Virou muito... Não adianta...Polina gosta de bola altas e ponto final...Jogo Russo e acabou....
    Nas alturas, ninguém pega Polina.... além dos seus gritos que lembram também os afrontes da Gamova....kkkkkkk
    Ontem Polina acabou com as medianas Amanda e Juciely...e a torcida fanática cega do Rio e do Bernardo ainda pedem essas em Tóquio.... Comédia ����������
    Enfim, adorei que as Imbatíveis do Rio perderam e vão ter que se contentar com o quarto lugar do Turno...Bem feito....

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    1. A Polina tem uma característica de técnica em sustentação no ar que é rara. Teve um ataque específico que ela direcionou na mão do bloqueio que foi um primor.

      Me lembra a Drews, dos EUA, que não tem tanta força e tanto alcance mas tem a mesma velocidade técnica na sustenção. Amo isso!

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  2. Amo Fabíola por sua humildade e zero estrelismo, mas deveria ser um pouco mais ousada, principalmente com as centrais. Seria lindo ver Fabíola e Dani em Tokyo. Não consigo ver firmeza em Macris e Roberta em uma olímpiada. Is my opinion.

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    1. Eu também gosto muito do estilo da Dani e da Fabíola idem são duas grandes levantadoras, mas Olimpíadas é momento né e quem tá se destacando desde as últimas temporadas por sua velocidade de jogo é a Macris. Ela nesse momento está sim a frente das demais. Eu iria de Macris e Dani pra Tóquio. Tô achando que é essa dupla q o Ze Roberto vai levar. Aguardemos.

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    2. A Fabíola no auge jogou muito e acho que hoje está melhor do que a Dani.

      Eu não levaria a Dani, vem de uma temporada ruim e nesta está cometendo alguns erros bobos.

      Ainda não vi nada que prejudique meu pensamento de Macris e Fabíola, com Roberta como terceira opção e só depois Dani.

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  3. É verdade que a Polina ontem foi determinante pra Vitória do Bauru, dia em que estava inspirada . Concordo também que a azeri gosta de bolas altas e na verdade Polina é uma oposta de bolas altas e isso é fato. Como o Gustavo disse Tiffany nao tem passe da muito prejuízo atrás e nao está compensando no ataque eu colocaria no banco como uma opção numa inversão e sacaria Vanessa Janke como titular. Vale lembrar que a búlgara Dobriana ainda vai estrear e pode dar muita qualidade ao passe pra Dani poder usar melhor as centrais. Mara já pro banco eu ainda prefiro Adenizia e Fe Izes como titulares. Enfim torço pra Bauru pro projeto se consolidar e quem sabe beliscar um lugar na final da superliga. Ñao custa sonhar.

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  4. Esse time encaixaria perfeitamente com Dobriana e Fê Ísis na rede de dois, enquanto Suelle, Polina e Adê fariam a rede de três. Tifanny tem q jogar como oposta para render, que entre então na inversão ou na rede substituindo a Suelle ou Vanessa como ponteira em momentos para virar bola caso n estejam rodando.

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    1. Concordo, Rafael.

      Eu gosto da Mara, mas acho a Fê em melhor momento. Tifanny prejudica uma característica básica da Dani que é esse jogo forçado com as centrais.

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  5. Foi um jogão, apesar do alto rendimento da Poli, me assustou o baixo rendimento no ataque de algumas jogadoras do Sesi, como a Suellen e Adenizia. Mas de qq maneira, parabéns para o Bauru, o time tem tudo para engrenar.

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    1. Eu só não critico a Suelle pq ela virou duas bolas consecutivas em momentos decisivos do set haha

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  6. Gustavo, adorei o texto e estou feliz pela sua volta. Só achei que faltou vc comentar a quantidade absurda de erros dos dois lados, mesmo considerando 5 sets, se não me engano foram 66 erros, 33 pra cada lado. Gostei da atuação da Fê Isis e da Polina, melhor atuação da Mara tbm na temporada até agora. Espero que o time cresça e incomode Praia e Osasco pq meu coração é do Minas. De qualquer forma gosto de voleibol e sempre aprecio o melhor de cada time, sem menosprezar outros times e principalmente jogadoras. Acho que todes deveriam fazer o mesmo.

    Ah e continue, por favor, com o conteúdo internacional, pq só fico sabendo pelo teu blog que acompanho a vários anos.

    Obrigado pela sua dedicação ao nosso esporte do coração.

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    1. Obrigado, eu sempre acabo esses textos achando que ficaram péssimos. Que bom que vocês gostam! <3

      E também acho seu comentário perfeito, realmente os erros foram atípicos para um clássico nacional. Até entendo o Rio e seus problemas, mas o Bauru sempre teve isso como característica.

      Vou fazer o melhor possível, eu que agradeço por vocês estarem sempre aqui! =D

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  7. Concordo com sua crítica integralmente!!! Apesar do bom jogo da Mara, acredito q é ela quem deveria bancar pra Fê Isis ser titular. Com a chegada de Dobriana Rabadzhieva o time tende a melhorar muito!

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    1. Talvez com a chegada da Raba as centrais rendam mais, a Mara principalmente. Mas não adianta ter a búlgara e a Tifanny, né...

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  8. Concordo com sua crítica integralmente!!! Apesar do bom jogo da Mara, acredito q é ela quem deveria bancar pra Fê Isis ser titular. Com a chegada de Dobriana Rabadzhieva o time tende a melhorar muito!

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  9. Em alguns jogos tive a impressão que a Fabíola forçava mais as jogadas com a Ana Cristina, enquanto a Lorenne recebia poucas bolas.

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    1. Também senti isso! E gosto da Lorenne, falta um pouco mais de experiência, mas ela se sai bem em momentos de pressão.

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    2. Eu posso estar redondamente enganado, mas a Tifanny está rendendo muito menos que quando começou a jogar no Bauru e algo dentro de mim diz que ela tem medo de se destacar muito e ser banida por conta de ser trans, como disse, posso estar totalmente enganado, mas eu tenho essa impressão, de que ela tirou um pouco o braço.....
      Parabéns querido, vamos tentar capitalizar esse site para você poder ganhar uma grana com ele premiando sua grande dedicação!

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    3. Concordo, é óbvio que Tiffany se segura para não se destacar, exemplo é o saque viagem no jogo contra o Flamengo, se ela manter a regularidade nesse fundamento, ela fará um estrago grande e tome mimimi, sem contar que a Tandara já disse o mesmo em entrevista. Impossível alguém que jogou profissionalmente no masculino ser tão ruim assim no masculino.

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  10. Gustavo, concordo com tudo que disse. Já a algum tempo vejo Tifany muito abaixo, com todo respeito que ela merece, mas vejo nenhum diferencial nela. Acho muito fraca tecnicamente, talvez seja até pelo fato de sua formação, já que começou no masculino onde a força física pesa mais do que na feminina cuja técnica apurada é mais importante.

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    1. Tá brincando né? O voleibol masculino é infinitamente mais difícil que o feminino, quero ver se é fácil recepcionar uma pancada a mais de 100km/h toda hora ou fugir do bloque gigantesco russo e etc, no masculino quem for só na porrada leva no pé ou na cara.
      Pergunto-me como a Tiffany foi atleta profissional no masculino sendo tão ruim no feminino.

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    2. Eu entendi o que o A1 quis dizer hehe.

      E acho que faz sentido: é o saque tático, aquele flutuante chato, que complica a vida da Tifanny. Ela dá um passe ridículo (desculpa, Tif) de toque que sempre fica baixo pra Dani.

      Mas é engraçado mesmo que antes da transição, ela atuasse passando. Porque parece que ela sempre foi uma Kosheleva da vida...

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    3. Como meus técnicos dizem: Passe se treina, mas altura não se treina. Depende só da força de vontade e empenho da própria Tifany querer melhorar seu passe.

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  11. Perfeitos e certeiros comentários, Gustavo.

    Concordo totalmente com você que as levantadoras de Tóquio deveriam ser Macris (indiscutível) e Fabíola. Roberta tem jogado muito na atual temporada em termos de distribuição, mas veio de duas ou três temporadas pífias e, sinceramente... a quantidade de dois toques que ela comete por jogo é algo assustador. Não consigo entender como ela ainda não conseguiu refinar esse toque. Fora isso, é uma jogadora completa e esforçada, mas está atrás das demais. Dani, por outro lado, veio de uma temporada fraca, mas achei que começou a atual muito bem. Tenho visto ela em tendência de crescimento e considero a única outra que poderia ir com a Macris além da Fabíola. Além disso, não acredito que o ZRG vai deixar de levar uma das duas "veteranas".

    Quanto à Tifanny, admiro demais a sua história e seu esforço. Mas ela simplesmente não tem condições de ser titular em um time grande que busque pódio. Ela melhorou bastante no passe (e nos demais fundamentos além do ataque), mas continua dando muito prejuízo. Infelizmente, são 4 anos no Bauru com a mesmíssima tônica: "O desempenho no ataque NÃO compensa a instabilidade no passe". Acho ela uma ótima peça num time pra entrar quando o time precisar "desafogar" a Polina (seja como oposta, seja como ponteira), nas inversões e também para aumentar o bloqueio. Ela pode fazer a diferença nesses momentos. Mas o time não pode ser montado tendo ela como base no passe, não funciona. Nunca funcionou durante todas as temporadas dela no Bauru. Espero que Rubinho perceba isso e não coloque a Suelle no banco para Dobriana. Suelle, Dobriana e Polina formariam um excelente trio nas pontas.

    Quanto à Amanda, fiquei triste com a queda de rendimento dela porque ela me parece a única opção de ponteira-passadora reserva caso a Jaque não seja convocada. Fora elas duas, não vejo quem esteja à altura de substituir a Gabi ou eventualmente a Natália quando o objetivo for garantir o passe. Garay, pra mim, é ponteira de definição. Mas, jogando do jeito que está, melhor seria levar só a Gabi e três ponteiras porradeiras, confiando na craque que é a Brait.

    Por fim, espero que os dois times cresçam bastante no returno. Sem dúvidas, são os dois times do "G5" que têm o maior potencial para melhorar dentro da competição.

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