O calvário de Alessia

Nascida em Oristano, comuna italiana da região da Sardenha, a levantadora Alessia Orro, jogadora do Unet E-work Busto Arsizio e da seleção italiana, passou por um verdadeiro trauma no último ano. Orro foi assediada e ameaçada por Angelo Persico, um homem de 53 anos que se dizia “apaixonado” pela atleta. 

Alessia Orro passou por drama durante o último campeonato italiano (Foto: Gabriele Alemani/UYBA)


O assédio a Orro começou através das redes sociais, quando Persico enviava mensagens à atleta como “eu te amo”, “você é linda”, “estou louco por você”. Alessia bloqueou o perfil do stalker, mas ele criou novas contas perfis. Persico chegou a entrar em contato com a mãe e a irmã de Alessia, exigindo que dissessem à jogadora para responder suas tentativas de contato. Sem sucesso, ele foi além.

Em julho de 2019, Persico saiu das redes e foi atrás de Alessia quando ela defendia a seleção italiana. "Ele apareceu pessoalmente no meu aniversário. Eu estava com a seleção e ele se aproximou ao final de um jogo e me deu um buquê de flores, como outros fãs fizeram", conta Alessia ao Corriere. "Ele falou o nome dele, mas eu não o reconheci, porque ele nunca usou uma foto de perfil nas redes sociais. Mais tarde, ele apareceu com outras flores e eu entendi quem ele era. Tive um ataque de pânico". 

Não acaba por aí. Persico adquiriu um pacote VIP dos jogos do Busto Arsizio, time que Alessia defendia até este ano. Com isso, ele poderia frequentar o treino. "Ele vinha aqui todos os dias para vê-la treinar", conta o gerente do Busto Arsizio, Enzo Barbaro, em entrevista ao Corriere Della Serra. "Às vezes ele tentava se aproximar dela, às vezes ele se afastava. Ele não dizia nada". 

A segurança da atleta preocupava seu time. "Nós também sentimos um pouco de medo, mas imediatamente nos aproximamos ao lado dele. E não escondemos o problema, pelo contrário, também pedimos aos representantes de nossas torcidas organizadas que nos ajudassem a mantê-lo sob controle. Quanto mais as pessoas soubessem, mais poderíamos proteger Alessia", conta Barbaro.

Persico intensificou a perseguição, seguia Alessia em outras cidades, comprava bilhetes aéreos nos mesmos voos da jogadora, fazia reserva no mesmo hotel em que o time ficava hospedado. Eram convites sexuais, comentários obsessivos usando suas fotos, ameaças a ela e à família. 

Seu namorado precisava chegar em casa antes de Alessia para garantir sua segurança, as colegas de time iam com a jogadora até o carro, até a sua casa, a fim de manter sua segurança. Orro passou a ter crises de pânico. "Quando eu estava em casa sozinha, às vezes eu ficava com medo. E até hoje ainda verifico se a porta está fechada". 

Obsessão: Alessia Orro desenvolveu síndrome do pânico durante perseguições e diz ter medo até hoje (Foto: Corriere Della Sierra/reprodução)


Jeanyce Araújo, psicóloga e integrante da Comissão de Mulheres e Questões de Gênero no Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, explica como o sentimento de Alessia se manifesta em mulheres. "Quando as mulheres se encontram em situação de violência é muito comum que se manifestem crises como ansiedade e pânico, que já é a crise de ansiedade generalizada. Isso acontece porque a mulher fica em constante sensação de que as ameaças vão retornar e virão a qualquer momento e que o agressor pode aparecer. Essas são algumas das marcas que a violência pode deixar".

Alessia não suportou e decidiu denunciar Persico, mas aguardou investigação policial. Quando retornava de Olbia, em um amistoso que foi seguir a jogadora do Busto Arsizio, o perseguidor finalmente foi preso e durante a revista foram encontradas duas facas em sua posse. A polícia constatou que o homem já tinha mais duas acusações semelhantes por perseguições.

"Nunca pensei que tivesse forças para enfrentar o que me aconteceu", diz Alessia. "Mas agora estou muito melhor e, mesmo sabendo que ainda não acabou, me sinto livre. E eu me sinto péssima por ele. Repugnante. Como ele chegou até isso? Fazer uma garota sentir medo, fazê-la se sentir-se tão desconfortável", desabafa a levantadora. 

Persico foi condenado a 1 ano e 8 meses de prisão, mas cumpriu apenas uma semana, já que lhe foi concedida liberdade com algumas restrições, como reabilitação e medida protetiva a Alessia.

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