Rússia foi a primeira representante da África na Olimpíada, após 32 anos sem direito à vaga

Por Gustavo Aguiar



O voleibol estreou nos Jogos Olímpicos em 1964, 17 anos depois da criação de sua Federação Internacional, a FIVB, fundada em 1947. A primeira edição do vôlei feminino nos Jogos teve seis países: Estados Unidos, União Soviética, Romênia, Coreia, Polônia e Japão, sendo que este último foi o primeiro campeão. Quatro anos depois estreiam Tchecoslováquia, o México e o Peru, primeiro país sul-americano a representar o voleibol em uma olimpíada.

A esta altura, a FIVB já tinha quatro de suas cinco atuais confederações continentais: a AVC (Ásia e Oceania, fundada em 1952), a CSV (América do Sul, 1946), a CEV (Europa, 1963) e a Norceca (Américas do Norte e Central e Ilhas do Caribe, 1968). A 'filha' mais nova da FIVB é a CAVB, a Confederação Africana, fundada em 1972.

Apesar de haver apenas 8 anos de diferença entre a criação da CAVB e a estreia do vôlei nos Jogos Olímpicos, o voleibol feminino da África só teve direito a uma vaga em 1996, 32 anos depois. É claro que compreendemos as dificuldades do continente, mas no vôlei feminino os "jogos da igualdade" não eram tão iguais assim.

Olimpíada de Atlanta, Estados Unidos, a CAVB finalmente teria direito a uma vaga. Naquela época três seleções se apresentaram para a disputa: o Quênia, a Nigéria e o Egito. Algum tempo depois, o Egito se retirou como anfitrião por falta de recursos, a Nigéria assumiu a organização do torneio e foi aí que entrou a Rússia. Não deveria, mas é a história.

Atual técnica do Kenya Pipeline, Margaret Indakala era um dos destaques do Quênia em 1996, juntamente à já falecida Doris Wefwafwa (Foto: reprodução Daily Nation)

Entretanto, antes de relacionarmos esses fatos, precisamos entender o que aconteceu com a seleção de Nikolai Karpol naquele ano. A Rússia caiu na semifinal do Campeonato Europeu em 1995, quando a Holanda de Cintha Boersma derrubou as gigantes por 3 sets a 1 na semifinal. Caindo na semifinal, as russas não conseguiram vaga para disputar a Copa do Mundo, que até então dava vagas olímpicas.

Fora da Copa, a Rússia teve uma segunda chance no Qualificatório Europeu em 1996, com os quatro melhores classificados do continental no ano anterior: Holanda (que não se classificou pela Copa), Croácia e Alemanha. A Rússia conseguiu se vingar da Holanda e classificou-se à final contra a Alemanha - e adivinhem? Voltou a fracassar: caiu por 3 sets a 2 na final.

Rússia de 1996 tinha nomes como Artamonova, Gratcheva, Sokolova e Tischenko, mesmo assim não conseguiu fazer sucesso no continente (Foto: reprodução)


Agora, só restava uma opção para a Rússia: jogar o Qualificatório Intercontinental. Mas não foi o que aconteceu e é daí que começa a bizarrice. A FIVB deu um convite para a seleção da Rússia disputar o Qualificatório Africano na primeira edição da história, após 32 anos, em que a África ganhava o direito de disputar os Jogos.

Não há muitas explicações sobre isso, mas a Rússia teria se classificado para substituir o Egito. Assim, a Rússia enfrentou o Quênia e a Nigéria, seleções que nem se comparavam às gigantes europeias quanto à experiência no esporte. O resultado todo mundo pode prever: a Rússia bateu o Quênia e a Nigéria, ambos por 3 a 0 e classificou-se à olimpíada de Atlanta. As duas equipes africanas chegaram a protestar contra a participação russa, mas a FIVB deu de ombros. E em 1996, na primeira vez em que a Federação disponibilizou uma vaga olímpica para a África, a representante africana da olimpíada foi a Rússia. Nesta olimpíada a Rússia chegou à semifinal, mas foi derrotada pela China e perdeu o bronze para o Brasil.

A África só estreou nos Jogos no final do último milênio, em Sydney 2000. O Quênia, que teve a vaga tomada em 1996, venceu o Qualificatório Africano, desta vez só com equipes africanas. Nesta Olimpíada as atacantes da rainha venceram dois sets, um contra a Croácia e outro contra a Austrália, motivo de muita festa para elas, como sempre.

Quênia durante os Jogos de Sydney 2000; África levou 36 anos para ter um representante olímpico e 32 para "ter direito" a uma vaga (Foto: reprodução)

Comentários

  1. Gustavo, o ultimo paragrafo esta confuso, a informação que traz é sobre 1996, em 2000 a Russia perdeu apenas a final para Cuba, foi prata .

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    1. A última frase ficou no parágrafo errado. Mas eu não tinha percebido, obrigado por avisar <3

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  2. A história é praticamente parecida com a República Dominicana no qualificatório Sulamericano em 2004. Vai falar isso no próximo capitulo ??

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  3. FIVB sempre mijou na Rússia, por isso que eu duvido dela proibir a Rússia de ir à Tóquio e todas as competições do próximo ciclo, como neutros. Aposto que até VNL com bandeira branca, eu as russas irão.

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  4. Sidney 2000 ainda foi no milênio passado. Só corrigindo. ,:-)

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  5. Gente como assim né esse fato da Rússa ter ocupado uma vaga africana.Mt nada haver e o pior que até hoje as seleções africanas não tem espaço de fala

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  6. Adorei o post! Parabéns para o blog, continuem o bom trabalho!

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  7. Muito bom! Parabéns pelo conteúdo

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  8. Reportagem maravilhosa. Parabéns!!!

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  9. FIVB como sempre promovendo qualificatórios absurdos, além dos sistemas de disputas bizarros nos Mundiais. Lamentável!

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  10. Mudando de assunto: vendo as atuais performances de Lise Van Hecke no italiano, hoje por exemplo, derrotou sozinha o Scandicci por 3x2, se essa ingrata ainda jogasse pela seleção belga, juntamente com a Heyrman, ambas teriam elevado e muito o patamar da Bélgica na luta pela vaga olímpica, se com a nefasta Grobelna, a seleção belga quase tira a classificada Whorquia, imagine com essa duas ótimas jogadoras, mas não se pode chorar o leite derramado, né.

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    1. Preferia ficar cego do que ver essa final medonha entre EUA e Turquia. Eu mesmo furaria meus olhos com um garfo.

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    2. Quem sabe uma delas cai ainda na primeira fase.

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  12. Que história bizarra! Muito bom o post, Gustavo! Continue trazendo notícias sobre o voleibol africano que muitos desconhecem e desvalorizam.

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  13. História bizarra essa de 96. Não sabia dessa "manobra" da FIVB para fazer as dopadas disputarem os jogos. Ainda bem não foram sequer medalhistas. Muito boa a matéria. Quando você traz essas notícias de modo puramente informativo e imparcial, eu te aplaudo de pé.

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  14. Muito bizarra. E olha que a Rússia era um grande time. Maior vacilo da FIVB.

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