"Jornal" de presidente do Caserta chama estrangeiras de "sem vergonha, rudes e sem valor"

Xenofobia e racismo: infelizmente a Itália protagoniza mais uma história triste no voleibol mundial. E vem da região da Catânia, no sul do país, onde o estreante da liga principal, o Golden Tulip Volalto Caserta vem promovendo uma campanha historicamente vexatória para o país. 

No último domingo (22), o Caserta anunciou a demissão de 5 atletas titulares de seu elenco. No mesmo dia, após o comunicado oficial do Caserta, a porto-riquenha Aurea Cruz postou em seu Instagram uma foto com as companheiras de equipe, a canadense Alexa Gray e a americana Rhamat Alhassan, com a hashtag "nenhum comentário é necessário". Alhassan republicou a foto, com a legenda "lentamente fazendo nosso caminho para a liberdade".

Alexa Gray, Rhamat Alhassan e Aurea Cruz 

Mas a situação piorou na última terça-feira (24). Auto-intitulado "jornal online", o portal Notix publicou um artigo completamente ofensivo, estampando justamente uma foto de um jornal local em que aparece a foto das três jogadoras. O lixo de artigo intitulado "A ruína do vôlei italiano são as estrangeiras. Sem vergonha, rudes e sem valor" assim escreve na íntegra:

"Percebam que as estrangeiras na Itália estragam tudo. Elas são as mais sem vergonha, pelos "boquetes" inéditos, custam valores impressionantes, mas nem sequer valem a série B2 italiana. Fazem cirurgias e escondem, têm hérnias e escondem, apresentam-se com as costas quebradas e escondem, apresentam-se com lesões contínuas no ombro e escondem. O que um novo clube, diante de tal cenário, pode fazer? Uma coisa: chutar a bunda delas em casa. Elas estão com defeito, então no final da carreira não falamos sobre elas, são as piores já vistas em circulação. Se as chamamos de "mercenárias", ainda as tratamos bem: são de uma espécie tão perigosa que não é adequada para a Itália, para o esporte na Itália, a campeã mundial Itália".

Nicola Turco: o controverso presidente do Caserta

O Notix pertence ao Gruppo Turco SPA, uma série de empresas ligadas à família do presidente do Caserta, Nicola Turco. Segundo o site volleyball.it, o site é registrado por Turco e no Facebook do Notix é possível encontrar várias fotos do presidente do Caserta e informações sobre o time. Gian Luca Pasini, repórter do Gazzeta, também publicou um cartão de Natal que mostra o Notix ligado ao Gruppo Turco.

Os dois sites italianos não estão nessa "briga" por acaso. Na segunda (23), o Notix fez uma postagem direcionada ao Volleyball.it e ao Gazzeta, acusando os portais de terem familiares na LVF e ameaçando-os: "Estamos rindo de tudo isso (...). Se vocês criticarem o Caserta sem necessidade, seremos obrigados a contra-atacar". O VB.it entrou com denúncia na Ordem dos Jornalistas contra o Notix.

Turco também esteve envolvido em polêmicas com a PMG Sport (operadora de tv que transmite os jogos da Lega), quando acusou um profissional da emissora de agredir um voluntário. A Lega confrontou as informações de Turco e do Caserta, mas o time desmentiu. A LVF disse que acionaria o Caserta judicialmente por calúnia. 

Mais recentemente, após o jogo contra o Cuneo, o Caserta acusou parte de seus fãs de serem "bêbados e drogados que ofenderam as jogadoras e que saquearam o clube". A torcida oficial do Caserta, conhecida como "Manicômio", disse que não houve nenhum incidente e que aplaudiram as jogadoras, como sempre fizeram. O comunicado também agradeceu pelos investimentos de Turco, mas pediu sua saída, alegando que ele estava fazendo papel de palhaço.

Turco, por sua vez, defende-se com uma alegação de que foi ameaçado de morte por uma pichação em seu portão, em outubro. Segundo o Notix, tudo não passa de "racismo contra o sul".

Nicola Turco é o presidente do Gruppo Turco e do Volalto Caserta 2.0 (Foto: reprodução)