Uma Rússia perdida, de estrelas apagadas e um técnico questionável

Os olhos cheios d'água pré-lacrimejantes de Ekaterina Gamova hoje (02/10), indicavam que algo havia dado errado para a seleção russa. Ao perder no tie-break para a Turquia da incrível Gozde Sonsirma, a seleção bicampeã mundial caiu para a quarta colocação do grupo atrás de EUA, Brasil e Sérvia e complicou sua vida para classificar-se à próxima fase. Terá pela frente ninguém menos do que Brasil no sábado e Sérvia no domingo. Para sua sorte, ambos ainda duelam com os EUA. Mas voltemos ao foco, a atual situação da Rússia. Antes, temos de enaltecer como Sonsirma é uma jogadora incrível. Não é qualquer jogadora no mundo que é capaz de ser a maior pontuadora contra times como Brasil e Rússia. É uma pena que falte a essa seleção turca uma oposta decisiva, senão estaria na briga pela próxima fase com certeza.

Enfim, analisemos o problema da Rússia hoje. Tatiana Kosheleva, pra mim, é a melhor jogadora do mundial até aqui. E as estatísticas do campeonato concordam comigo: segunda maior pontuadora, segunda melhor atacante, na recepção está a frente de especialistas no fundamento como Jaqueline e Molnar e no bloqueio supera inclusive as duas centrais russas. Em 2010 Brasil e Rússia apresentavam duas craques de bola ao mundo numa final eletrizante. Kosheleva teve lesões e se consagra em seu retorno. É impossível não admirar as atuações dessa russa, mas... e as outras?

A imprensa russa parece não estar feliz com Yuri Marichev, atual técnico da seleção. E não é pra menos. A quem Marichev tentou convencer colocando Goncharova e Kosheleva como passadoras dessa seleção? Goncharova é completamente instável em jogos decisivos, imagine recepcionando! Em Londres 2012 foi muito diferente, a outra ponteira era Sokolova, extremamente técnica e especialista no fundamento. Kosheleva fica então responsável pelo ataque e recepção da Rússia? Não vingou.

Grande estrela, Goncharova tornou-se decepção. A atacante vinha jogando como uma oposta que recepciona e cruza com Kosheleva, mas ataca pela saída quando se encontra com Gamova na rede. Mas Goncharova não agradou a ninguém em nenhum dos fundamentos. Campeã mundial com a Rússia em 2006, Elena Godina teceu duras críticas à seleção de seu país durante a transmissão ao vivo da derrota russa para as americanas que repercutiram em todo o mundo voleibolístico. A frase direta a Goncharova chamou mais atenção: "Cara Natalyia, a bola estava flutuando no ar por tanto tempo, você definitivamente teve tempo de dar passos em direção a ela e não apenas acenar seus longos braços no ar como se fosse uma Rainha dos Cisnes". Em entrevista posterior, a atacante exigia de Marichev que ele voltasse ao uso tradicional do esquema tático com duas ponteiras e Gamova na saída. Os maus resultados e a pressão concordaram com Godina e foi necessária a substituição definitiva dela por Pasynkova. Pasynkova, jogadora mediana que nem de longe é a resolução dos problemas de passe das russas. 

Pela entrada Gamova vem sendo completamente patética. A diagonal curtíssima foi lida, relida e completamente dominada por Karadayi. E quando é defendida ou bloqueada em sequência, Gamova dá pane: dá largadinhas pra fora, toma tocos... Foi a vez de Malykh sair do banco, Gamova não estava resolvendo. A jovem oposta foi bem para a ocasião, é um bom banco para a Rússia. E durante o final do terceiro e quarto e quinto sets, as duas maiores estrelas russas ficaram lá, sentadinhas, assistindo a partida. No demais, Kryuchkova sendo bizarra na recepção não é novidade, Startseva errando a distribuição também não. O passe horripilante nem deixa as críticas a Moroz e Fetisova serem válidas. 

Em entrevista pós-jogo, Marichev jogou a culpa no erro final de Kosianenko que deu a vitória à Turquia: "Devo parabenizar a Turquia sobre o seu desempenho impressionante, mas o erro decisivo da nossa levantadora Kosianenko deixou um gosto amargo na minha boca: erros como esses não deveriam decidir jogos bonitos". Marichev só esqueceu de mencionar o passe final bisonho que levou ao erro da capitã. Com três de suas titulares no banco, Marichev resolve culpar a levantadora? Pela série de erros, acredito ser o último campeonato do técnico com a seleção.

É cedo pra dizer isso, mas não vejo a Rússia indo muito longe com essa forma de jogo. Tudo pode estar nas mãos da Sérvia de Boskovic e Mihajlovic, onde as russas ainda são favoritas. Não-classificada, a "abusada" Sonsirma não esteve nem aí. Provocou, gritou, sorriu e eliminada ou não, exalou felicidade em tombar em pleno mundial, o maior time da Europa.

Nem Gamova, nem Goncharova: as duas mais respeitadas jogadoras do vôlei russo foram pro banco contra a Turquia.
Kosheleva decidiu mais uma vez, Malykh ajudou, mas era o dia da Turquia