5 clubes que usam esquemas táticos diferentes na sua linha de passe

Nem toda ponteira é obrigatoriamente passadora. O termo original da função "outside-hitter", designa uma "batedora de fora". Temos vários exemplos de excelentes ponteiras do vôlei mundial que são pouco eficientes no passe. O termo "opposite", por sua vez, designa a atacante que ataca atrás da levantadora e cruza com a mesma na rede. Sim, existem opostas passadoras e existem ponteiras que não passam. Existem times com duas opostas e ainda existe sim aquela "falsa oposta" (termo que não gosto muito de usar haha), que não ataca, não está ali pela definição, mas pela montagem do trabalho tático. Pensando nessas variáveis, resolvi analisar 5 esquemas táticos diferentes nas linhas de recepção de 5 gigantes do mundo e as jogadoras que o efetivam. Acompanhem:

Grothues no Fenerbahçe

A inspiração desse post vem exatamente dessa holandesinha. Maret Grothues-Balkstein é a capitã da Holanda, tem 1m80 e pouco poder ofensivo, é uma ponteira estrategicamente de preparação. Desde sua chegada ao Fenerbahçe, o time cresceu muito! Grothues joga na saída de rede, posição da oposta e substituiu uma titular muito efetiva no ataque, a turca Uslupehlivan. Mas Grothues mal recebe saques e pontua pouco, tendo uma enorme dificuldade principalmente nos ataques de saída de rede, então gerou-se a discussão: qual a sua função? A verdade é que ela está exposta na recepção praticamente o tempo todo, são as adversárias que tiram o saque de cima dela. Tanto Kim quanto Natália participam da recepção, mas normalmente quando as ponteiras estão no fundo, são cobertas por Grothues - garantindo à levantadora o uso das atacantes na pipe.

FOTO 1: Grothues cobre Natália na recepção. Ponteira brasileira está livre para o ataque na rede.


FOTO 2: Grothues cobre agora Kim pelo fundo, deixando a coreana confortável para a pipe,



Robinson e De Gennaro no Conegliano

Desde os problemas de saúde da ponteira mexicana Samantha Bricio e da chegada das americanas ao grupo, o técnico do Imoco Volley, Davide Mazzanti, tem usado um sistema peculiar na recepção: a linha de passe é composta por apenas duas passadoras, a ponteira americana Kelsey Robinson e a líbero do time Monica De Gennaro. Com isso Mazzanti coloca duas opostas em quadra, normalmente a italiana Serena Ortolani pela saída e a americana Nicole Fawcett pela entrada. Na final da Copa Itália, Mazzanti inverteu as funções das opostas, com Fawcett na saída e Ortolani na entrada, eventualmente recepcionando (se muito necessário). A gente já viu esse sistema sendo usado há pouco tempo pela Rússia de Marichev, com a ponteira Shcherban e a líbero Malova protegendo Kosheleva.

FOTO 3: De Gennaro e Robinson participam sozinhas da linha de passe. Na ocasião, Fawcett joga na saída e Ortolani na entrada, opostas dão suporte mínimo ao passe.



Demir no Eczacibasi

O trabalho tático e a montagem de time do Eczacibasi depende muito da oposta turca Neslihan Demir (Darnel). Demir tem aquela qualidade abençoada de ser uma jogadora versátil e trabalhar bem na recepção. Foi exatamente pensando nisso que o Eczacibasi montou um elenco com a russa Kosheleva, excelente atacante de passe muito ruim. Nesse caso, Demir e Larson comporiam a linha de passe e Kosheleva ficaria livre para o ataque. Mas como todos já sabem, Boskovic é imprescindível para os planos do time e Demir não está no seu auge, o que tornou esse sistema pouco efetivo contra grandes times.

FOTO 4: Demir recepciona da saída de rede, Kosheleva está fora de quadra totalmente livre para o ataque.


Ilchenko no Uralochka 

Normalmente a oposta é a jogadora que mais recebe bolas por isso fica livre da recepção. Bem, novamente não é o caso. Ksenia Ilchenko (Parubets) é ponteira, mas já jogou como oposta. A jogadora tem um dos melhores passes da Rússia e nessa temporada passou a ser escalada por Nikolai Karpol como oposta, atacando na saída de rede. Mas como tirar a recepção dela? Karpol colocou Klimets na entrada e Ilchenko passou a ser oposta passadora. Além de receber a maioria absurda dos saques, sendo caçada na recepção é a jogadora mais acionada pela levantadora Sheshenina (Babeshina). No fundo de quadra, Ilchenko normalmente ataca a pipe. Todo esse esforço vem fazendo da jogadora, ao meu ver, a melhor da Rússia na temporada.

FOTO 5: Ilchenko recepciona pela saída de rede, Klimets está ao fundo, oculta à recepção.



Ramirez no Praia Clube

Semelhante ao trabalho tático de Demir, a cubana Daymi Ramirez tem uma função importante no passe do Praia Clube. Eventualmente a jogadora cobre a americana Alix Klineman na recepção, liberando a gigante americana para o ataque. A diferença é que a americana costuma aparecer no passe, principalmente quando está no fundo de quadra com Ramirez e Michelle na rede. Mas a grande maioria das bolas, quem passa é a cubana.

FOTO 6: Ramirez compõe linha de recepção e Alix fica fora de quadra, livre para o ataque.


Comentários

  1. Faltou a Monique no Rexona que cobre a Anne Buijs

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    1. Isso é raríssimo de acontecer, Carla. Monique tem apenas 16 recepções na Superliga. Em termos de comparação, a central Lara Nobre tem 14.

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  2. Como cresceu o time do Fenerbahçe com a chegada de Grothues. Vê em algumas jogadas Natália atacando no fundo pela saída mostrou que pode ser um futuro para seleção que que está precisando de uma oposto que defina. A experiência internacional pra Natália vai fazer um bem enorme pra ela e pra seleção.

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  3. Adoro a Grothues. Agora quanto ao David Manzantti acho ele um técnico genial. Só me preocupa qual será a "Robinson" que ele utilizará na seleção italiana para cobrir uma oposta do passe porque na minha opinião Egonu ficará na saída, e Ortolani e Diuof brigarão pela vaga de "Falsa Ponteira" na seleção. Quem será : Alessia Gennari ou Lucía Bossetti? Alguma outra. Piccinini e Del Core já não defendem mais a seleção e uma das duas poderia perfeitamente "fazer a Robinson" da seleção do David. Acho que no GP 2017 vamos de:
    Monica De Gennaro
    Ofélia Malinov
    Chirichella
    Folie
    Diouf
    Lucia Bossetti
    Egonu.

    O que acham dessa formação? Acho que no GP ele vai dá descanso pra Ortolani. É uma pena Piccinini não jogar mais na seleção. Tá com 37 anos e brinca de jogar. No jogo contra o Conegliano teve 62% de aprov no passe e ainda fez 17 pontos. Quem sabe seu grand finale nao seja aos 38 no mundial 2018? Sera que David Manzantti conversaria com ela?

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  4. As três primeiras experiências são bem sucedidas. As demais são bem duvidosas.

    Robinson e De Gennaro conseguem manter uma excelente linha de passe, minimizando a participação da Ortolani. Lembro ainda que Fawcett jogou como ponteira passadora na temporada passada pelo Novara. Entretanto, com o retorno de Bricio, acho que Ortolani volta para o banco e com Robinson mais efetiva no ataque, a equipe será mais forte ainda.

    Grothues, por ser canhota, joga melhor na saída mesmo e tem o melhor passe do time do FenerbahÇe, inclusive superior a líbero da equipe. Desta forma, as atacantes Kim e Natália ficam livres para atacar de qualquer canto da quadra, enquanto que Eda Erdem consegue atacar com o passe na mão de qualquer uma das duas levantadoras em quadra. A melhora na campanha do time turco se deu justamente porque com o passe na mão, as opções de ataque são maiores e o jogo ganha em qualidade. A holandesa é ainda muito boa na defesa e ainda colabora nos demais fundamentos, além de ser uma líder dentro de quadra.

    Ilchenko é uma das melhores ponteiras passadoras russas e joga com muita efetividade no ataque. Com certeza, disputará a vaga com Scherban, porque com a atual falta de qualidade na recepção, Kosheleva terá que disputar a vaga de oposta na seleção.

    O caso de Neslihan é o mais delicado. Ela não é uma exímia passadora e joga no sacrifício no passe porque Kosheleva é pífia mesmo, uma das piores passadoras que já vi jogar. Inclusive, a falta de uma ponteira de melhor passe tem comprometido a criatividade do jogo da levantadora sérvia e a efetividade do ataque das centrais e de Jordan Larson, muito comprometida com o passe.

    No caso do Praia Clube, Ramirez não é uma boa passadora e, frequentemente, a equipe perde a qualidade no ataque de Walewska e Fabiana, sem contar que Claudinha é uma jogadora ainda em evolução para trabalhar com um passe tão ruim. Michelle, por sua vez, é pouco caçada pelo saque adversário, dada a sua qualidade.

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  5. Eu acho o caso do conegliano o mais arriscado ,mas também é meu preferido se uma de suas ponteiras não tem confiança na recepção o certo é tira-lá do passe mesmo ,porq no decorrer de uma partida isso iria acabar afetando o rendimento dá mesma . Mas fato é ,tem que ter muito culhão pra jogar com esse esquema tático , não é todo time q tem uma Robison e uma De Gennaro. Mais eu veria o Brasil facilmente com Jaque e C Brait ,com tandara e Natalia escondidas do passe .

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    1. Jaqueline de bengalas consegue cobrir qualquer uma outra, menos a Kosheleva (é claro!), no passe. Hahahahahaha.

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    2. O mais arriscado para mim é o caso da Neslihan. Ela sempre jogou como oposta e, por mais habilidosa que seja, não é exímia passadora. Não é o caso da Sloetjes, por exemplo, que começou a carreira como ponteira passadora e passa razoavelmente.

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  6. O case de sucesso, definitivamente, é a Grothues no Fener. O time ganhou outra cara com a chegada dela. A Polen e a (excelente) Tomkom foram preteridas por este novo esquema que entrega os passes quase em 95% dos casos na mão da promissora segunda levantadora do time (esqueci o nome dela). Sabemos que nem Natália, nem Kim são exímias passadoras, mas com a Grothues preenchendo um grande espaço da quadra, o passe tem chegado quase sempre A, aumentando as bolas com a Eda.
    O caso de 2 passadoras apenas, como no Conegliano, é bastante arriscado. A sorte é que a Robinson tem um fundo de quadra invejável e a De Gennaro dispensa apresentações. Problema é que precisa necessariamente que as 2 estejam em ótima forma para cobrir a quadra inteira (caso da Larson que não tem tido eficiência no Eczacibasi).
    Lembro de crescer vendo Cuba jogar no 4-2, com as levantadoras de atacante também. Inaugurando a fase de jogadoras versáteis que podem atuar em mais de 1 posição. Por exemplo, se a Thaisa tivesse com uma maior agilidade na movimentação, poderia substituir uma levantadora tranquilamente. O toque de bola dela é limpo e bem preciso.

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  7. No geral, em todas as Seleções atuaais, são poucas que tem boa recepção, os EUA se usar a formação da Robinson e Larson se sobresai, porém a libero não é lá essas coisas, acho que Usando a Garay e Natalia de Pontas com a Tandara passando seria uma boa opção, o problema maior que enfrentaremos nesse futuro próximo não é somente a recepção, vejo a instabilidade ofensiva das atacantes como algo mais preocupante, a Tandara e Natalia vivem de altos e baixos, aquela bola de Segurança que tinhamos com a Scheila e Fabiana fará muita falta, e pelo perfil da Thaisa, tenho dúvidas se ela continuaria numa Seleção em renovação com grandes chances de perder tudo (em competições).. Na Rússia, acho que a formação não funciona por causa das levantadores e o passe da Scherban, é razoavel. Acho que atualmente as unicas Seleções que conseguem se virar, graças a um jogo de mais velocidade e de atacantes eficientes são a China e a Sérvia.

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