Cuba: o declínio de um império

Constantemente ouvimos falar do poderio cubano nos anos 80 e 90, mas talvez não tenhamos noção de sua grandiosidade. Se olharmos o currículo da seleção cubana de voleibol encontraremos o tricampeonato olímpico, o tricampeonato mundial, tetracampeonato da copa do mundo, um título da da copa dos campeões, o bicampeonato do Grand Prix, o octacampeonato pan-americano e dezenas de outros títulos. Liderada por nomes como Mireya Luis, Regla Torres, Regla Bell a seleção cubana era o papa-tudo mundial. Protagonizando jogos incríveis contra o Brasil, Cuba caiu em declínio no decorrer dos anos 2000, o que continuamente se aprofundou ao decorrer da década. Presente no pódio nos anos de 92, 96 e 2000, o título olímpico foi o último de relevância para a equipe a nível mundial. Ali, Cuba se despediria de uma geração vencedora e assistiria de casa o seu maior rival dominar o cenário mundial: era a vez do Brasil.

Conflito entre brasileiras e cubanas após a vitória da seleção da ilha nas semi-finais de Atlanta 96. Cuba sagraria-se posteriormente bicampeã olímpica.

Em Atenas 2004 Cuba sofreu seu primeiro revés ao ser derrota pela China no tie-break e posteriormente vencer um arrasado Brasil na disputa pelo bronze. Nos anos seguintes, Cuba nem teria noção de um pódio olímpico. Após vencer o Brasil no Pan-americano do Rio em 2007, as caribenhas figuravam novamente como uma das grandes do cenário mundial e favoritas ao título. Rumo a Pequim, caiu diante dos Estados Unidos nas semi-finais e na disputa do bronze não teve forças para derrubar as donas da casa.

Em 2007, Cuba venceu o Brasil em casa pela disputa dos Jogos Pan-americanos. Seria a última derrota brasileira para essa seleção até então

Se o ciclo 05-08 de Daymi Ramirez, Nancy Carrilo, Yanelis Santos e Yumilka Ruiz não encantou com seu voleibol, o posterior menos ainda. No ciclo 09-12, contava com nomes como Yanelis Santos, remanescente de 2008, Ana Lidia Cleger Abel, Rachel Sanchez, Yusidey Silie e Kenia Carcases. Ali, Cuba perdia o domínio continental para os Estados Unidos e para um novo inimigo: a República Dominicana de Marcos Kwiek, que contava com uma mescla das bolas altas cubanas e da velocidade brasileira. No mundial de 2010, Cuba amargou derrotas para adversários como Holanda, Alemanha, EUA e Brasil. Terminou com a 12ª colocação. Em 2011, participavam pela primeira vez no ciclo do Grand Prix sequer chegando aos playoffs terminando em 11º lugar. Evidentemente, algo estava errado. O auge do declínio cubano aconteceu em 2012, quando depois de 3 ouros, um bronze e um quarto lugar, pela primeira vez, Cuba não se classificava para as olimpíadas. Derrotadas na decisão do classificatório da Norceca, a equipe desistiu de tentar jogar o pré-olímpico, alegando problemas financeiros.

Dominicanas venceram o classificatório e eliminaram Cuba que pela primeira vez, não participou dos jogos olímpicos

Depois de 2012, a seleção cubana nunca mais foi a mesma. Investiu em jovens, sem nenhum bom resultado continental ou mundial. Eliminada na primeira fase do atual mundial (14) mundial, Cuba não pontou e venceu apenas um set na competição, se igualando às seleções africanas, Tunísia e Camarões e ao México. 

Mas qual fator fez a maior potência mundial se tornar uma patética equipe de nível voleibolístico tão baixo? Infelizmente, a política da ilha. Como funciona: Cuba não tem uma liga forte e muito menos, remuneradamente interessante. Resta a jogadoras jogarem em outros países, como as americanas e as sérvias por exemplo. O problema é que a rígida política cubana não aceita que uma jogadora que jogue fora do país, retorne à seleção. Como tentativa de desestimular tais atitudes, Cuba exige que para deixar o país, a jogadora fique por 2 anos completamente parada, caso contrário infligiria as leis do país. Algumas aceitaram e tiveram que recuperar seu voleibol aos poucos no decorrer de treinamentos como Daymi Ramirez e Nancy Carrillo. Houve também deserções de seus atletas, como a oposta Tay Aguero, bicampeã olímpica que inclusive jogou as olimpíadas de Pequim pela seleção italiana, país em que a atleta se naturalizou. Na ocasião, a família da atleta chegou inclusive a sofrer retalhações em Cuba pelas escolhas da mesma. Houve boatos da anulação da lei e do possível retorno de jogadoras como as citadas Ramirez e Carillo, Calderón e Carcases.

A traidora: Taismary Aguero fugiu de Cuba, se naturalizou italiana e jogou pela seleção do país

O sistema de jogo cubano também torna-se antiquado, uma vez que a seleção é a única a apostar no 4x2, onde jogadoras revezam entre o levantamento e o ataque de saída (as tradicionais levantadoras-opostas).

Enquanto a política cubana não se ajeita, enquanto líderes caribenhos não admitem o fracasso do esporte quanto à política, Cuba segue amargando fracassos no voleibol mundial. A seleção de Mireya e Torres, acostumada a lutar por títulos, hoje luta para sobreviver. Resta aos cubanos a esperança, depositada por exemplo na menina Melissa Vargas de 14 anos. Melissa carrega consigo um brilho que representa a esperança e as saudades de outro brilho antes corriqueiro: o do ouro.

Com 14 anos, Melissa Vargas carrega a esperança da nação cubana para o esporte

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